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terça-feira, 19 de julho de 2022

Assistência militar e visita diplomática a Taiwan alimentam a crise entre China e Estados Unidos

A crescente tensão entre Beijing e Washington, cujo pano de fundo é a relação cada vez mais firme entre o governo norte-americano e Taiwan, ganhou dois novos e apimentados ingredientes nos últimos dias. Um deles, a possível visita à ilha de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, marcada para agosto. Outro, um pacote de US$ 108 milhões em assistência militar a ser enviado a Taipé, que o Pentágono aprovou na semana passada.

Beijing reagiu com o habitual tom ameaçador ao anúncio da visita. Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (19), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês Zhao Lijian disse que a visita “minaria seriamente a soberania e a integridade territorial da China”, segundo a agência Reuters.

“Se o lado dos EUA se apegar obstinadamente a esse curso, a China definitivamente tomará medidas resolutas e contundentes para defender firmemente sua soberania nacional e integridade territorial”, disse Zhao. “Os Estados Unidos devem ser totalmente responsáveis ​​por todas as consequências causadas por isso”.

O presidente da China, Xi Jinping, durante encontro por vídeo com Joe Biden (Foto: news.cn)

A visita, que passaria ainda por Japão, Cingapura, Indonésia e Malásia, foi noticiada primeiramente pelo jornal Financial Times. Pelosi tinha uma viagem agendada para Taiwan em abril, mas cancelou porque contraiu Covid-19. Se confirmada a agenda de agosto, ela seria a mais importante legisladora norte-americana a visitar a ilha desde 1997, quando um dos antecessores dela, Newt Gingrich, lá esteve.

Mesmo no governo norte-americano, a possível visita não foi bem recebida. Segundo três pessoas familiarizadas com a questão, a Casa Branca avalia o momento como sensível e manifestou preocupação, porque a ida de Pelosi a Taiwan coincidiria com as comemorações da fundação do Exército de Libertação Popular (ELP) da China, em 1 º de agosto.

Outra questão igualmente delicada é o fato de que o Partido Comunista Chinês (PCC) realizará ainda neste ano seu 20º Congresso, que pode render ao presidente Xi Jinping um inédito terceiro mandato no comando do país.

Considerando tais fatores, há no governo norte-americano quem concorde com Beijing e encare a decisão de Pelosi como “provocação”, segundo o Financial Times.

Colaboração militar

Embora os EUA não reconheçam oficialmente Taiwan como nação independente, o governo é obrigado por lei a oferecer a Taipé meios para se defender de um eventual ataque. E essa ameaça é cada vez maior, com frequentes e ameaçadoras incursões aéreas no espaço aéreo taiwanês, uma resposta de Beijing às reivindicações de soberania da ilha.

Como parte dessa parceria militar, o Pentágono anunciou na última sexta-feira (15) um pacote de US$ 108 milhões em assistência militar. Estariam inseridos no acordo, que atende a uma reivindicação da ilha, peças sobressalentes e de reparo para tanques e veículos de combate, além de apoio técnico e logístico fornecido por Washington e empresas privadas contratadas, segundo a Reuters.

“A venda proposta contribuirá para a manutenção dos veículos, armas pequenas, sistemas de armas de combate e itens de apoio logístico do destinatário, aumentando sua capacidade de enfrentar ameaças atuais e futuras”, disse o Pentágono em comunicado.

Wang Wenbin, também porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, disse que o acordo viola o princípio “Uma só China”, que encara Taiwan como parte do território chinês, e prejudica gravemente a soberania e os interesses de segurança de Beijing.

“A China se opõe firmemente e condena fortemente isso e apresentou representações solenes ao lado dos EUA”, disse Wang. “A China insta o lado norte-americano a cumprir o princípio ‘Uma Só China’ e os comunicados conjuntos China-EUA, revogar o plano de venda de armas para Taiwan e interromper as vendas de armas e os laços militares com Taiwan”.

Exercício militar de Taiwan realizado em junho de 2020 (Foto: Wkimedia Commons)
Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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