Franco Mella, um padre católico nascido em Milão, iniciou nesta quinta-feira (14) um protesto de três dias perto de um presídio de segurança máxima em Hong Kong. Ele pede a libertação de ativistas e políticos pró-democracia detidos com base na lei de segurança nacional. As informações são da agência Reuters.
Durante o período em que ficará no local, uma área isolada da ilha de Lantau com vista para a prisão de Shek Pik, o padre diz que recusará qualquer oferta de comida, um desafio consideravelmente mais árduo devido às altas temperaturas, quase sempre acima dos 30º C.
“O tempo está muito quente. Então, eles estão sofrendo lá dentro”, disse Mella, referindo-se aos ativistas presos. “As mensagens são ‘estamos com vocês, não percam a esperança’. Continuaremos a lutar por todos que têm esperança”.
Dissidência silenciada
No dia 1º de julho, Hong Kong completou 25 anos sob o domínio chinês. Embora opere sob o conceito “um país, dois sistemas”, o território cada vez mais se aproxima das condições de repressão impostas pelo Partido Comunista Chinês (PCC) na China continental.
Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, em Hong Kong a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Como disse o presidente Xi Jinping no evento que celebrou os 25 anos, “qualquer interferência deve ser eliminada”.
A principal ferramenta do governo local para silenciar os críticos é a lei de segurança nacional, que motivou o protesto do padre. Ela classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.
Imposta por Beijing em 2020, a normativa legal foi uma resposta aos protestos em massa por democracia em 2019, dos quais Franco Mella fez parte. Ele também integrou um grupo de figuras cristãs que pediram em janeiro deste ano anistia ao magnata da mídia Jimmy Lai e a outros ativistas presos em função de seu papel na luta por democracia.
Outra proeminente figura católica alvo das autoridades recentemente foi o cardeal Joseph Zen, detido pela polícia em maio deste ano. A acusação está relacionada à atuação dele no agora extinto grupo 612 Humanitarian Relief Fund (Fundo de Auxílio Humanitário 612, em tradução literal), que prestava apoio jurídico, psicológico e financeiro a pessoas presas ou feridas nos protestos de 2019.
Repressão mais forte
Hong Kong, no entanto, não vê a democracia no horizonte. Muito pelo contrário. John Lee, empossado no dia 1º de julho como novo chefe executivo do território, afirmou que a lei de segurança nacional não é o bastante. É necessária uma legislação “mais efetiva” e “o mais rápido possível”, nas palavras dele.
“A lei de segurança nacional de Hong Kong atualmente lida com os riscos mais prementes para a segurança nacional”, disse Lee, sugerindo a necessidade de novas leis “para lidar com qualquer risco de segurança sério concebível”.
O chefe executivo diz que pretende fazer valer o artigo 23 da Lei Básica, a constituição local, que permite a Hong Kong criar suas próprias leis. Considerando que o Legislativo agora é composto por políticos pró-Beijing, a tendência é de leis compatíveis com o autoritarismo que reina na China continental.
“Espero que, quando estivermos legislando, a lei seja capaz de lidar com todos os problemas previstos e espero que não haja mais emendas”, disse ele, segundo o site Hong Kong Free Press.
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