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quarta-feira, 20 de julho de 2022

Ex-braço direito de Osama Bin Laden está vivo e Al-Qaeda é uma ameaça adormecida, diz relatório

Um relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) na última sexta-feira (15), através da Equipe de Apoio Analítico e Monitoramento de Sanções, confirmou uma suspeita levantada em ao menos duas ocasiões anteriormente: Ayman al-Zawahri, líder da Al-Qaeda, está “vivo e se comunica livremente”. O documento também afirma que o grupo terrorista é atualmente uma ameaça adormecida, com planos de “ser novamente reconhecido como líder da jihad global”.

Os boatos sobre a morte do ex-braço direito de Osama Bin Laden começaram a se enfraquecer em meados do ano passado, devido a um vídeo no qual ele exaltava os dez anos dos ataques de 11 de setembro de 2001 e citava uma ação contra forças de segurança russas ocorrida no dia 1º de janeiro de 2021, na Síria. Ou seja, ele estava vivo ao menos até o início do ano passado, vez que a referência ao ataque em Nova York poderia ter sido gravada com antecedência, não necessariamente em setembro.

Então, em abril deste ano, um novo vídeo acessado e traduzido pelo SITE Intelligence Group, que monitora páginas de grupos jihadistas na internet, encerrou as especulações sobre a morte de al-Zawahri. Na gravação, ele comentava o caso de uma indiana que, em fevereiro deste ano, desafiou a proibição de usar o hijab, o véu islâmico, em seu país.

Agora, conforme o documento da ONU, que aborda o período entre janeiro e junho deste ano, não é um fato pontual que sugere a possibilidade de o terrorista estar vivo. Ao contrário, “al-Zawahiri emitiu mensagens de vídeo regulares que forneceram uma prova de vida quase atual”.

Imagem de 2001 de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri (Foto: Hamid Mir/Creative Commons)
Al-Qaeda adormecida

Outro ponto destacado pelo relatório é a proximidade entre a Al-Qaeda e o Taleban, o que transformou o Afeganistão em porto seguro para terroristas do grupo. Curiosamente, é essa relação cordial que reduz a ameaça global terrorista representada pela organização jihadista liderada por al-Zawahiri.

“A Al-Qaeda não é vista como uma ameaça internacional imediata a partir de seu porto seguro no Afeganistão porque carece de capacidade operacional externa e atualmente não deseja causar dificuldade ou constrangimento internacional ao Taleban”, diz a ONU.

Tal afirmação refere-se ao fato de que os talibãs buscam reconhecimento global como governo afegão de direito e não podem ter a reputação comprometida pela relação com um grupo terrorista ativo.

No entanto, a passividade da Al-Qaeda tende a ser temporária, pois o grupo “pretende ser novamente reconhecido como líder da jihad global”. O documento diz que a Al-Qaeda desenvolveu sua propaganda para competir com o Estado Islâmico (EI) como “ator-chave na inspiração do ambiente internacional de ameaças e pode, em última análise, tornar-se uma fonte maior de ameaças direcionadas”.

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

Na África Ocidental, em particular, a violência das organizações jihadistas tem aumentado. Nos últimos três anos, foram registrados mais de 5,3 mil ataques terroristas, com a morte de cerca de 16 mil pessoas. A informação foi divulgada no início de maio deste ano pelo ministro da Defesa de Gana, Dominic Nitiwul, durante reunião de representantes dos países da região.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em janeiro deste ano, o exército norte-americano impôs nova derrota ao EI com o anúncio da morte de Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Ele morreu durante uma operação antiterrorismo na Síria, em mais um duro golpe contra o grupo, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado no final de maio.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O documento destaca, ainda, que “a Al-Qaeda usou a ascensão do Taleban para atrair novos recrutas e financiamento e inspirar os afiliados da Al-Qaeda globalmente”. E que o atual líder da organização, Ayman al-Zawahri, que foi o braço direito do famoso terrorista Osama Bin Laden, continua a viver no Afeganistão, bem como seus comandantes mais próximos.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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