A guerra na Ucrânia, que a Rússia classifica oficialmente como uma “operação militar especial”, está longe de ser unanimidade entre os cidadãos russos. A insatisfação popular com o conflito atinge inclusive as forças de segurança, com um movimento crescente de integrantes das forças armadas e da Guarda Nacional usando as vias legais para se recusar a combater. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
O processo para que um russo não seja enviado ao campo de batalha é relativamente simples, vez que Moscou não considera o conflito uma guerra. Pela lei, basta alegar “convicções antiguerra” para ficar fora da “operação militar especial”. Não deixa de ser irônico, vez que o governo tem se desdobrado para combater protestos antiguerra e até criou uma lei para punir aqueles que contestam a invasão.
Embora juridicamente simples, a recusa tem um preço. Invariavelmente, aqueles que pedem para não lutar são expulsos do exército ou da Guarda Nacional, esta última uma unidade armada habitualmente encarregada de manter a ordem pública em território russo.
Nem todos, porém, aceitam calados a demissão. Muitos têm buscado advogados para obter a dispensa sem perder o emprego.
Andrei Rinchino, que atualmente vive no exterior, diz que recebe diariamente dezenas de pedidos de soldados e parentes deles. “Há algumas semanas, um de meus seguidores escreveu que o filho dele e alguns companheiros soldados entregaram seus avisos”, disse o advogado, que atualmente chefia o departamento jurídico da ONG antiguerra Free Buryatia Foundation.
Advogados perseguidos
O crescente movimento de russos em busca de dispensa levou o governo a contra-atacar, ainda mais diante da redução do contingente em função dos reveses inesperados frente à resistência ucraniana. Assim, os advogados tornaram-se alvo de perseguição, com relatos de agressão, perda da licença profissional e consequentes casos de profissionais que se viram obrigados a deixar o país, como Rinchino.
É o caso de Ivan Pavlov, advogado ligado ao oposicionista Alexei Navalny que deixou o país e está hoje na lista de “criminosos” procurados do Kremlin. “Mesmo antes [da invasão], o ambiente no país não era o melhor para trabalhar como advogado. Mas desde o início da guerra as coisas ficaram absolutamente horríveis”, disse ele.
Mikhail Benyash, crítico do governo Putin, defendeu 12 membros da Guarda Nacional demitidos porque se recusaram a lutar. Todos foram à Justiça contestar a decisão, sendo que três ainda abriram ação contra o ex-empregador. Quem pagou o pato foi o advogado, que diz ter sido preso e agredido quando tomou parte em protestos antiguerra.
Segundo Rinchino, a pressão sobre os colegas que continuam a atuar dentro da Rússia é “enorme”. No entanto, ele diz que ninguém planeja desistir.
“Não estamos trabalhando sozinhos nessa questão e isso me deixa feliz”, disse ele. “Pessoalmente, desejo que mais soldados contratados me procurem. “Não estamos trabalhando sozinhos nessa questão, e isso me deixa feliz”, disse ele. “Pessoalmente, desejo que mais soldados contratados me procurem”.
O governo não mantém dados acessíveis sobre o número de combatentes que pediram dispensa. Já a Free Buryatia Foundation diz que ofereceu aconselhamento jurídico a mais de 350 pessoas, com outras tantas tendo acessado o passo-a-passo disponibilizado nas redes sociais. Já o advogado Pavel Chikov, líder da organização de direitos humanos Agora, diz que sua entidade atendeu 700 indivíduos.
Recrutamento militar
Desde o início da guerra na Ucrânia, o tema do recrutamento militar tem ganhado destaque na Rússia, sobretudo em função das denúncias de que as forças armadas têm usado também conscritos, que são jovens enviados para combater mesmo que contra a própria vontade. O governo sempre negou a informação, alegando usar apenas soldados profissionais, todos voluntários com contrato assinado.
No entanto, em março, o Ministério da Defesa admitiu que alguns conscritos foram enviados por engano, mas já teriam sido levados de volta à Rússia. Mais tarde, no início de junho, a Justiça militar abriu procedimentos disciplinares contra ao menos 12 oficiais de suas forças armadas acusados de enviar conscritos à guerra.
“De acordo com a supervisão do Distrito Militar Ocidental, cerca de 600 soldados conscritos foram atraídos para a operação militar especial, todos os quais retornaram o mais rápido possível”, disse o promotor Arthur Yegiev, falando à câmara alta do parlamento russo.
A questão é sensível no país, e Moscou teme insatisfação popular generalizada com as eventuais mortes de jovens na guerra. Há inclusive registros de entidades que representam mães russas alegando que os filhos foram combater sem treinamento adequado, de forma a compensar a queda do efetivo em função das mortes no campo de batalha.
Legalmente, a questão gera debate. A legislação russa permite o envio de conscritos à guerra, desde que cumpram o período de quatro meses de serviço militar. O serviço militar no país é obrigatório para homens entre 18 e 27 anos. Porém, muitos conseguem evitar a convocação com base em dispensas médicas ou educacionais.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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