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segunda-feira, 18 de julho de 2022

Togo volta a sofrer com a violência em ataque que matou ao menos 12 pessoas

Um ataque realizado por homens armados levou à morte de ao menos 12 pessoas no norte do Togo, na última quinta-feira (14). A região onde ocorreu o violento episódio tem sofrido com a crescente presença de grupos extremistas islâmicos. As informações são da agência Reuters.

O número exato de mortos no ataque é incerto. Um ativista de direitos humanos falou em 20 mortos, dez em Sougtangou e os outros em Blamonga, duas vilas perto da fronteira com Burkina Faso. Um segundo ativista falou em 12 vítimas fatais, enquanto uma médica informou que 14 pessoas morreram.

Mesmo sem dados precisos, é possível afirmar que se trata da ação mais mortífera já realizada no país por supostos extremistas islâmicos. O Togo, que até poucos meses atrás se mantinha livre da violência jihadista que afeta nações vizinhas, vem se tornando um alvo eventual.

Devido ao crescimento da ameaça terrorista, as forças armadas passaram a marcar forte presença no norte do país, a fim de combater facções originárias sobretudo de Burkina Faso, Mali e Níger.

Soldado do Togo em missão de paz da ONU, dezembro de 2018 (Foto: Flickr)

Embora nenhum grupo tenha reivindicado a autoria do ataque de quinta (14), tudo aponta para o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), organização extremista sediada no Mali e vinculada à Al-Qaeda que se expandiu internacionalmente e já surge como ameaça em países vizinhos, como Benin, Costa do Marfim e Gana.

O GSIM, também conhecido pelo nome em árabe Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), lidera a principal rede jihadista do Sahel.

No dia 11 de maio, o grupo realizou um ataque que matou oito soldados do Togo. Na ocasião, cerca de 60 extremistas em motocicletas tiveram como alvo um posto militar em Kpinkankandi, também no norte do país. Além dos oito soldados mortos, 13 ficaram feridos. Também teriam sido mortos 15 extremistas.

Aquela ação foi a primeira com mortes conduzida por terroristas islâmicos no Togo. Em novembro do ano passado, os militares locais conseguiram conter um ataque que terminou sem vítimas.

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

Na África Ocidental, em particular, a violência das organizações jihadistas tem aumentado. Nos últimos três anos, foram registrados mais de 5,3 mil ataques terroristas, com a morte de cerca de 16 mil pessoas. A informação foi divulgada no início de maio deste ano pelo ministro da Defesa de Gana, Dominic Nitiwul, durante reunião de representantes dos países da região.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em janeiro deste ano, o exército norte-americano impôs nova derrota ao EI com o anúncio da morte de Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Ele morreu durante uma operação antiterrorismo na Síria, em mais um duro golpe contra o grupo, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado no final de maio.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O documento destaca, ainda, que “a Al-Qaeda usou a ascensão do Taleban para atrair novos recrutas e financiamento e inspirar os afiliados da Al-Qaeda globalmente”. E que o atual líder da organização, Ayman al-Zawahri, que foi o braço direito do famoso terrorista Osama Bin Laden, continua a viver no Afeganistão, bem como seus comandantes mais próximos.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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