O grupo de direitos humanos Gulagu.net, da Rússia, revelou ter recebido mais de mil vídeos que mostram prisioneiros sendo espancados e torturados por agentes da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês) e dos serviços prisionais russos (FSIN). Parte do material já foi disponibilizado na internet. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
“É um vazamento sem precedentes que vai chocar todo o país. No total, temos mais de 40 giga de arquivos mostrando tortura generalizada”, disse Vladimir Osechkin, fundador da ONG que monitora abusos no sistema prisional. O lote de vídeos, segundo ele, foi entregue por um especialista em TI (tecnologia de informação) que recentemente fugiu do país.
Nesta quarta-feira (6), Osechkin publicou no Facebook que há vídeos provando a ação de agentes do FSIN, que batem em um detento e o ameaçam com estupro. “O vídeo refuta todas as mentiras de todos estes mentirosos que imitam os direitos humanos na Rússia e estão tentando ajudar agora as forças de segurança a esconder a natureza sistêmica da tortura no país”, diz no texto.
Segundo a Radio Free Europe (RFE), promotores russos afirmaram nesta terça-feira (5) que uma investigação preliminar foi iniciada. Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, prometeu uma investigação “séria” se confirmada a veracidade dos vídeos.
Um dos vídeos postados no portal de notícias russo Vot Tak TV mostra o que seriam agentes usando uma grande vara para estuprar um homem nu amarrado a uma cama. Segundo Osechkin, o vídeo, que data de fevereiro de 2020, foi gravado dentro de uma prisão russa.
200 vítimas
Segundo
Osechkin, entre 2018 e 2020, pelo menos 200 presidiários teriam sido vítimas de tortura e estupro por agentes da FSB e do FSIN nos hospitais de penitenciárias das cidades de Saratov e Irkutsk. As imagens mostram maus tratos praticados contra 40 deles.Na terça (5), um porta-voz da Procuradoria-Geral da República, Andrei Ivanov, declarou em coletiva de imprensa que todas as instalações em Saratov serão verificadas como parte de uma investigação preliminar, de modo a identificar como os detentos estariam sendo alvo de violência policial no cárcere.
Servidores do FSIN disseram que oficiais foram enviados de Moscou ao local para “verificar a exatidão das informações”.
Denis Sobolev, presidente do grupo de direitos da Comissão de Monitoramento Público em Saratov, alegou que fez visitas frequentes ao hospital da prisão nos últimos seis meses, sem ouvir reclamações.
“Nenhum dos presos lá se queixou de nada”, disse.O site do Gulagu.net foi bloqueado em julho pelo Roskomnadzor, órgão russo regulador de internet e dos meios de comunicação, após pedidos da FSB e do FSIN.
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