Um tribunal de Moscou condenou nesta quinta-feira (14) a médica que tratou do principal opositor ao Kremlin, Alexei Navalny, a um ano de restrição de liberdade, sob acusação de violar as restrições sanitárias da Covid-19. As informações são da Radio Free Europe (RFE).
Anastasia Vasilyeva foi declarada culpada por instar cidadãos russos a participarem de protesto contra a prisão de Navalny no início deste ano, ato que as
autoridades disseram ser ilegal devido às determinações de segurança decorrentes da pandemia de coronavírus.Em março, a ONG Aliança dos Médicos, liderada por
Vasilyeva, foi incluída na polêmica lista de “agentes estrangeiros“, rótulo que carrega conotações negativas da era soviética e carimba o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. Tal medida, além de restringir o acesso para voluntários e a arrecadação de fundos para qualquer pessoa ou grupo inserido nela, t em levado líderes da oposição a fugir do país.Vasilyeva, que é oftalmologista, cuidou de Navalny em 2017 por conta de uma lesão no olho direito após ele ter sido alvejado por apoiadores de Vladimir Putin, e posteriormente expressou apoio ao opositor por ocasião da prisão dele. No entanto, ela rompeu publicamente os laços com os associados exilados do rival do presidente russo no mês passado, quando o governo intensificou a repressão contra eles.
A ruptura com os opositores foi marcada por uma publicação no Facebook em 16 de setembro, em que Vasilyeva acusou a agora extinta Fundação Anticorrupção (FBK) de Navalny de deixar ela e sua equipe sem qualquer apoio depois de “usá-los”, afirmando que os associados Leonid Volkov, Ivan Zhdanov e Maria Pevchikh, que atualmente vivem fora da Rússia, “estão arruinando tudo o que criamos “.
A postagem provocou uma reação exaltada na internet, com algumas pessoas levantando a suspeita de que a médica teria sido forçada a fazer a declaração, ocorrida na véspera das conturbadas eleições parlamentares em que o partido de situação Rússia Unida, que viu seu apoio cair, buscava manter-se no poder.
Vira-casaca?
Vasilyeva ficou famosa por tocar seu piano enquanto a polícia revistava seu apartamento em janeiro, durante forte perseguição direcionada contra Navalny e seus aliados. As autoridades estavam no encalço da médica desde então.
A situação de Vasilyeva chegou a ser comparada com a do blogueiro belarusso Roman Protasevich, outrora um crítico do autoritário líder Alexander Lukashenko e de sua repressão à oposição, diferentemente do posicionamento atual.
Protasevich foi preso em Minsk em maio deste ano, depois que as autoridades belarussas forçaram o voo da Ryanair de Atenas a Vilnius a pousar na capital. Posteriormente, ele mudou sua posição pública e seus pontos de vista sobre a situação política em Belarus, atitude que líderes da oposição acreditam ter ocorrido sob coação.
Reitor de prestigiada universidade é detido
Sergei Zuyev, reitor da Escola de Ciências Sociais e Econômicas de Moscou, popularmente conhecida como Shaninka, é mais uma vítima recente da repressão política na Rússia. Ele foi preso e levado para interrogatório nesta terça-feira (12), como suspeito de um caso de peculato de 21 milhões de rublos (cerca de US$ 290 mil), disse o Ministério do Interior da Rússia, com informações reproduzidas pela Radio Free Europe. Zuyev, que foi colocado em prisão domiciliar na quarta (13), nega as acusações.
“Isso é um lixo completo”, tuitou Lyubov Sobol, uma assessora exilada de Navalny, alegando que policiais estavam atacando a escola para facilitar a corrupção. “Tirem as mãos de Shaninka!”
Задержан ректор Шанинки Сергей Зуев. Пишут, что для избрания меры пресечения. Это полный треш. Видимо, силовики пошли искать бабло по ВУЗам. Руки прочь от Шанинки! https://t.co/h46y3N36XU
— Соболь Любовь (@SobolLubov) October 12, 2021
O Ministério do Interior justificou que a prisão de Zuyev tem conexão com uma investigação em andamento sobre Marina Rakova, ex-vice-ministra da Educação, detida na semana passada sob a acusação de peculato.
Apoiadores do reitor alegam que o educador foi vítima de um caso criminal usado de forma oportunista para atingir “uma escola corajosa que alguns funcionários vêem como uma incubadora de dissidência”. Cerca de 200 alunos da instituição assinaram uma carta aberta em defesa de Zuyev.
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