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domingo, 10 de outubro de 2021

Solo do Afeganistão pode esconder até US$ 1 trilhão em riqueza mineral inexplorada

Quando assumiu o governo do Afeganistão após conquistar Cabul, em 15 de agosto, o Taleban herdou uma crise econômica de difícil solução, num país que sempre sofreu com a escassez de fontes de riquezas. A solução do problema pode estar no subsolo do país, onde fontes inexploradas escondem uma riqueza mineral avaliada em até US$ 1 trilhão, segundo a rede Voice of America (VOA).

A informação, porém, não é novidade e chegou ao conhecimento dos talibãs antes mesmo da retirada de tropas dos Estados Unidos. Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em maio deste ano já sugeria que uma das principais fontes de riqueza do país seria a “exploração mineral”.

“O Mulá Yaqub (vice-líder talibã e filho de um dos fundadores do grupo) buscou maior independência financeira para o Taleban, em parte concentrando esforços no controle de áreas ricas em minerais inexploradas do Afeganistão. Um Estado-Membro estimou que, em 2020, os lucros do setor de mineração renderam ao Talibã aproximadamente US$ 464 milhões”, diz o documento.

A informação é reforçada pela ONG britânica Global Witness, que monitora a corrupção e sua relação com a exploração mineral e que relatou, em junho de 2016, que elementos armados antigovernamentais, incluindo o Taleban, faturam até US$ 20 milhões anualmente com a mineração ilegal da rocha lápis-lazúli.

Parque Arqueológico do Vale de Bamiyan, no Afeganistão, em 2010: solo rico em minerais (Foto: Divulgação/Unesco)

Parceria com a China

Quem representa papel central no processo de exploração mineral no Afeganistão é a China, que já investia no setor antes de os talibãs ascenderem ao poder. A China Metallurgical Group (MCC), empresa estatal chinesa, firmou em 2007 um contrato para desenvolver o campo da mina de cobre Aynak, na província de Logar, cerca de 32 quilômetros a sudeste de Cabul.

O investimento da MCC no projeto chegaria a US$ 2,8 bilhões, o que envolveria a construção de uma usina de energia elétrica e estradas de ferro, além da geração de 5 mil empregos para cidadãos afegãos, todos sob a supervisão de profissionais chineses. O projeto foi interrompido desde a queda de Cabul, mas tende a ser retomado.

“Nós consideramos reabri-lo depois que a situação se estabilizar e o reconhecimento internacional, incluindo o reconhecimento pelo governo chinês do regime do Taleban, ocorrer”, disse um funcionário não identificado da MCC ao jornal estatal Global Times, da Chinas.

Até agora, Beijing não reconheceu o Taleban como governo legítimo do Afeganistão, mas tem convocado as demais nações a seguirem por esse caminho. Os talibãs, por sua vez, mostram-se dispostos a dialogar. “A China é um grande país, com enormes economia e capacidade. Acho que eles podem desempenhar um papel muito importante na reconstrução, reabilitação e reconstrução do Afeganistão”, disse o porta-voz do Taleban Suhail Shaheen.

Por que isso importa?

Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo extremista chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país. O órgão, por outro lado, recusou o pedido para que um enviado talibã discursasse na Assembleia Geral.

Representantes do Reino Unido também receberam autoridades talibãs, e na ocasião pressionaram para que cidadãos britânicos fossem autorizados a deixar o Afeganistão, além de questionarem sobre os direitos das mulheres. Rússia, Irã, China, Uzbequistão, Turcomenistão e Paquistão estão entre as nações que mantém contato mais próximo com os novos governantes afegãos.

Até agora, porém, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país. Mais do que legitimar o poder talibã internacionalmente, esse reconhecimento é crucial para fortalecer financeiramente um país pobre e sem perspectivas imediatas de gerar riqueza. Inclusive, os Estados Unidos, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortaram o acesso de Cabul a mais de US$ 9,5 bilhões em empréstimos, fundos e ativos.

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