Após serem forçados a encerrar as atividades por conta do temor de perseguição, integrantes do Instituto Nacional de Música do Afeganistão (Anim) e da Orquestra de Mulheres Afegãs Zohra conseguiram deixar o país e escapar dos tentáculos do Taleban no domingo (3), informou a ONG National Public Radio (NPR). Em agosto, o grupo extremista que governa o país decretou a proibição da música, tida como “pecaminosa” pelos militantes islâmicos.
No total, 101 membros, entre alunos, professores e músicos, foram transportados de avião para Doha, no Catar. “Cem vidas foram salvas. Cem sonhos foram salvos”, declarou o
diretor e fundador do Anim, Ahmad Sarmast.Como o Taleban decretou o fim da autoexpressão artística,
apresentações ao vivo foram terminantemente proibidas no Afeganistão. Com medo de retaliação, músicos têm até queimado seus instrumentos. A medida é tão extrema que mesmo ouvir música é uma violação.O autoexílio dos músicos afegãos é resultado de esforços da comunidade internacional e de músicos como o prestigiado violoncelista
Yo-Yo Ma. Em setembro, integrantes da Orquestra Zohra foram barrados próximo ao aeroporto de Cabul por talibãs, frustrando os planos de escaparem de um país que censura suas atividades.Sarmast, que está na Austrália visitando a família, declarou que a fuga só foi possível por conta de “muitas negociações nos bastidores”. O diretor do Anim destacou “a contribuição de nossos amigos da Embaixada do Catar e do Ministério de Relações Exteriores”. Ele acrescentou que o ministro catari que chefia a pasta “chorou quando soube que o avião deles havia decolado de Cabul”.
Sarmast e seus aliados agora tentam efetuar a evacuação de mais de 180 membros do Anim que ficaram para trás, incluindo alunos, professores e familiares.“A Música é proibida, de acordo com o Islã”, disse Mujahid, que enxerga essa arte como “pecaminosa”, mas destaca a expectativa de solucionar a questão sem a necessidade de uma repressão violenta. “Esperamos poder persuadir as pessoas a não fazerem tais coisas, em vez de pressioná-las”.
Cultura afegã para o mundo
Fundado em 2010, o Anim fez história ao renovar a vida cultural e as artes no Afeganistão, com meninos e meninas estudando música lado a lado. Grupos formados no instituto, incluindo a orquestra feminina Zohra, levaram a música afegã em apresentações por todo o mundo.
Mas, como consequência do positivo legado cultural, a existência do Anim representava um perigo. Durante uma das apresentações em 2014, um homem-bomba sentado atrás de Sarmast detonou um explosivo, o que resultou na perda temporária de audição do diretor, que passou por cirurgias para a remoção de estilhaços de sua cabeça e corpo.
Por que isso importa?
Os afegãos sofrem cada vez mais privações de liberdade desde que os insurgentes da organização jihadista avançaram às grandes cidades e assumiram o controle da capital, Cabul. A repressão e a violência levantam dúvidas sobre a prometida liberdade de expressão anunciada pelo Taleban ao tomar o poder central do país.
A situação tem sido particularmente devastadora para as mulheres. Entre as imposições que voltaram a viger estão a proibição de mulheres saírem de casa desacompanhadas, o veto à educação em escolas e ao trabalho e inúmeros casos de mulheres solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.
Quem não cumpre as regras sofre com as consequências. As punições incluem espancamentos públicos, outro antigo meio de repressão dos fundamentalistas. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as novas (velhas) regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.
Em determinadas áreas, a educação é permitida para meninas somente até a quarta série. A perseguição também ocorre com homens, que são proibidos de aparar as barbas e têm a obrigação de orar cinco vezes por dia. Ouvir música e assistir à televisão também são atividades expressamente proibidas.
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