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sábado, 9 de outubro de 2021

Adolescentes estão impedidas de estudar no Afeganistão sob o domínio do Taleban

Enquanto meninos e meninas de até 12 anos de idade já voltaram às aulas no Afeganistão após a tomada de poder pelo Taleban, as adolescentes do país continuam em casa. Alunas do ensino médio estão impedidas de estudar até que o grupo extremista estabeleça o que considera um “ambiente seguro de aprendizagem para elas”, segundo a agência catari Al Jazeera.

A expectativa pela volta das adolescentes às aulas persiste desde que o Taleban chegou ao poder. À época, o vice-ministro da Informação e Cultura Zabihullah Mujahid disse que o grupo estava trabalhando em um “procedimento” para permitir que as aulas fossem retomadas no ensino médio.

Diante da demora, o temor é de que se repita a repressão de quando o Taleban governou o pais anteriormente, entre 1996 e 2001, com as adolescentes proibidas de estudar.

Segundo Jamila Afghani, uma ativista em prol da educação, a melhor estratégia no momento é tentar negociar com o grupo extremista. “Eu não os trouxe (o Taleban), você não os trouxe, mas eles estão aqui (no poder) agora, então temos que continuar pressionando”, disse ela.

Meninos já voltaram às aulas, mas meninas afegãs continuam impedidas de estudar
Meninas têm aula no ensino fundamental em escola improvisada na província de Nangarhar, Afeganistão, abril de 2019 (Foto: Unicef/Marko Kokic)

O problema é que o grupo tem uma postura evasiva mesmo quando se dispõe a dialogar. “Eles nunca chegam e dizem ‘não’. Eles ficam dizendo ‘estamos trabalhando nisso’, mas não temos ideia do que exatamente eles estão fazendo”, diz Toorpekai Momand, outra ativista pela educação das mulheres.

Momand destaca que a demora não faz sentido, pois as escolas afegãs sempre seguiram rígidos preceitos religiosos. Bastaria mantê-los, e tudo seguiria as regras rígidas talibãs. Os homens são vetados nos estabelecimentos de ensino para meninas, apenas mulheres trabalham e estudam nas escolas femininas. E as vestimentas sempre estiveram de acordo com o Islã.

O tópico restante seria o currículo educacional, o que, segundo Afghani, não é uma questão simples. “Refazer um currículo leva muito tempo e requer uma compreensão muito detalhada dos modelos educacionais”, diz ela.

O ensino é um assunto tão importante para as estudantes quanto para as profissionais da educação, o setor que mais emprega mulheres no país. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) estima que as mulheres representam um terço do corpo docente no Afeganistão, além de milhares de outras mulheres que trabalham em cargos diversos do setor educacional.

“Para muitas famílias, ensinar é o único trabalho que as mulheres podem ter”, afirma Masuda Sultan, empresária e ativista afegã-americana, referindo-se à prática de décadas de segregação de gênero na educação do país. “Se você não empregar essas professoras, estaremos reprovando as mulheres no Afeganistão”.

Por mais difícil que seja a situação, porém, Afghani diz que as mulheres não fugirão à luta. “Elas (meninas afegãs) iam à a escola em meio às explosões nas cidades, aos combates nas aldeias e distritos. Mesmo quando suas escolas ficavam sob fogo direto, as meninas afegãs não desistiam de sua educação”.

Dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apontam que  4,2 milhões de crianças estão fora da escola, sendo metade meninas, e cerca de 435 mil mulheres e crianças estão vivendo como deslocadas internas no Afeganistão.

Rumo ao exterior

Antecipando-se a uma eventual proibição ao ensino feminino, o único internato para meninas do país decidiu no final de agosto se transferir para Ruanda, na África. A Sola (Escola de Liderança do Afeganistão, da sigla em inglês) alegou, à época da mudança, que estava sendo realocada para uma temporada de “estudos no exterior”.

“A SOLA está se reassentando, mas nosso reassentamento não é permanente. Um semestre no exterior é exatamente o que estamos planejando. Quando as circunstâncias locais permitirem, esperamos voltar para casa, no Afeganistão”, disse Shabana Basij-Rasikh, cofundadora da escola.

Adolescentes estão impedidas de estudar no Afeganistão sob o domínio do Taleban
Alunas da Sola, o único internato para meninas do Afeganistão (Foto: divulgação/sola-afghanistan.org)

Por que isso importa?

A repressão de gênero não se limita ao campo da educação. As mulheres que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes.

Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há também um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar burcas pretas quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A proibição do esporte feminino também é uma realidade sob o governo talibã. Embora o grupo extremista não tenha emitido uma nota oficial sobre o veto, ele se faz presente na rotina das atletas afegãs. Depois do críquete feminino, cuja proibição foi anunciada pelo vice-líder da comissão cultural do Taleban, Ahmadullah Wasiq, a repressão atingiu outra modalidade muito popular no país: o taekwondo.

O Afeganistão tem apenas duas medalhas olímpicas em sua história. São dois bronzes conquistados pelo atleta do taekwondo Rohullah Nikpai em Beijing 2008 e Londres 2012. As conquistas de Nikpai no masculino popularizaram o esporte no país, inclusive entre as mulheres. Porém, agora que o Taleban assumiu o poder, a prática tem se restringido aos homens, e as escolas que ofereciam aulas para mulheres fecharam as portas.

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