O centro de reabilitação do Hospital de Panzi, em Bukavu, no leste da República Democrática do Congo, está usando a dança para ajudar vítimas de estupro. Tudo começou quando a professora de dança Amina Lusambo percebeu o profundo silêncio que acometia as meninas traumatizadas.
“Elas foram estupradas quando muito jovens e não sabiam se expressar. Eram muito retraídas”, relatou à Reuters. Agora, as meninas fazem fila para as aulas – um processo de aprendizagem da expressão e reconexão com seus corpos.
Uma aluna de 20 anos contou que a dança a ajudou a controlar seu medo e sua dor. “Voltei a dormir em paz e a sorrir novamente”, disse a mulher que pediu para não ser identificada e diz ter sido vítima de um estupro coletivo aos 17 anos.
Segundo ela, os homens que a violentaram usavam uniformes de combate e invadiram sua aldeia na província de Kivu do Sul. Ela não soube precisar se pertenciam a uma milícia ou eram soldados do exército.
A violência sexual aterroriza a população regional há mais de 20 anos. Apesar de o país ter feito algum progresso no combate a estupros nos últimos anos, o problema continua generalizado.
O Exército congolês confirma que “elementos indisciplinados” cometeram violência sexual no passado, mas que a ala militar do país trabalha para punir esse tipo de crime, antes tido como “tática de guerra”.
As razões teriam a ver com a reduzida inserção social das mulheres e a estrutura frágil de comando das milícias e do próprio exército, aponta a ONU (Organização das Nações Unidas).
Ajuda para recomeçar
“Me senti olhando novamente para mim mesma”, relatou a sobrevivente. “A terapia de dança me ajudou a tirar todas as coisas ruins que eu tinha dentro de mim. A tristeza e o medo que eu tinha foram embora”.
O centro de reabilitação de Bukavu já tratou mais de 60 mil sobreviventes de violência sexual em seus 20 anos de operação. “Não fazemos apenas o tratamento médico, mas também psicológico”, disse o médico Denis Mukwege.
“Ajudamos essas mulheres a se reintegrarem à sociedade com ajuda econômica e auxílio na busca por justiça”, afirmou o médico ginecologista congolês, reconhecido com o Nobel da Paz em 2018 por seus esforços para acabar com a violência sexual como arma de guerra.
A brutalidade predomina nas fronteiras orientais da República Democrática do Congo desde o fim oficial da guerra civil de 2003. Desde então, grupos armados persistem no front por terras, recursos e autoproteção.
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