A dinastia Kim já governava a Coreia do Norte há mais de 40 anos, desde antes do nascimento do atual chefe do país, Kim Jong-un. Uma das ditaduras mais antigas do mundo, a família se mantém no poder absoluto há três gerações. A receita de sucesso é a forte repressão e um sistema de patrocínio que garante o apoio das elites e militares.
No poder desde 2011, o atual líder do país reorganizou as estruturas do exército e do Partido dos Trabalhadores da Coreia, acelerou o desenvolvimento das capacidades nucleares e superou a prova de fogo à sobrevivência do regime, dizem especialistas.
A seguir, entenda o início e a permanência da dinastia Kim no poder na Coreia do Norte – um levantamento histórico do think tank norte-americano Council of Foreign Relations.
Poder obscuro
A libertação da Coreia do Norte do domínio colonial do Japão, após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1948, elevou Kim Il-sung à posição de líder supremo do país. Sua morte, em 1994, deu lugar a Kim Jong-il, que serviu por 17 anos até sucumbir a um ataque cardíaco em 2011.
A liderança norte-coreana, então, passou para Kim Jong-un, então com 28 anos. As especulações sobre a capacidade do jovem ditador em manter a estabilidade do regime logo foram afastadas com a sua consolidação no poder.
Kim foi rápido em instalar sua própria equipe de correligionários, revigorar o partido como órgão político central e recuperar o poder das facções de elite que, até então, haviam conquistado uma autoridade delegada por Kim Jong-il.
Os expurgos foram efetivos devido à opacidade informativa. Pouco se sabe de casos brutais, como a execução de Jang Song-thaek – tio de Kim Jong-un –, em 2013, e do ex-ministro de Defesa Hyon Yong-chol, em 2015. Outros casos menos graves envolvem aposentadoria ou desaparecimentos forçados.
A própria vida pessoal de Kim Jong-un é um mistério. Acredita-se que o ditador tenha três filhos com a esposa Ri Sol-ju – vista raramente. Sequer se sabe o sexo do filho caçula, que tem um irmão e uma irmã mais velhos. Raras evidências apontam ainda que Kim sofre de problemas médicos, como diabetes e gota, devido à obesidade e ao tabagismo.
Especialistas apontam que, no caso de morte, quem deve suceder o poder é sua irmã mais nova, Kim Yo-jong. Nos últimos anos, a mulher de 34 anos sentou ao lado do irmão em cúpulas com o ex-presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping e fez declarações sobre o aumento de tensões entre os EUA e Pyongyang em junho de 2020.
Poder centralizado
É o comitê central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, chefiado por Kim Jong-un, quem determina todas as decisões e políticas públicas sancionadas no país. A sigla comanda outras três instituições: a Central Política (Politburo); a Comissão de Controle; e o Gabinete de Política Executiva.
Este último controla a vigilância e nomeia todos os servidores do partido, do governo e militares. No Comitê Central estão cerca de vinte departamentos ligados ao Estado civil e a órgãos militares. São os departamentos que submetem ideias de políticas às entidades do Comitê Central. O núcleo do partido, então, delibera, aprova ou nega as iniciativas.
- Criado no final da década de 1940, o partido que comanda a Coreia do Norte manteve laços estreitos com os partidos comunistas da China e da extinta União Soviética.
- A consolidação, porém, só veio após a Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953. Foi então que a filosofia Juche – autossuficiência, independência e soberania – passou a dominar a política do país.
- Outro princípio ideológico é o Songun – ou “militar primeiro”, filosofia que eleva os militares acima de todos os outros elementos da sociedade.
Hoje, as Forças Armadas norte-coreanas têm cerca de 1,2 milhão de efetivos ativos. Outros 200 mil atuam nas forças de operações especiais. Estima-se que as reservas e pessoal paramilitar são compostos por outros milhões de cidadãos.
A organização militar possui normativas próprias. Sob Kim Jong-un, militares acumulam um poder de decisão cada vez maior e ganham vantagens no partido enquanto burlam a burocracia oficial.
Poder econômico e elites
Uma das nações mais pobres do mundo, a Coreia do Norte se concentra na mineração e manufatura, assim como na agricultura, silvicultura e pesca. Enquanto pesadas sanções internacionais intensificaram o isolamento do país, a economia norte-coreana atingiu o ritmo mais lento de crescimento em mais de uma década em 2018.
Desde que chegou ao poder, Kim desenvolveu a política Byungjin – ou desenvolvimento paralelo, com foco nas capacidades nucleares. Para isso, o líder supremo deixou o conceito antes usado de uma economia centralmente planejada para uma base econômica focada em incentivos e maior autonomia a províncias e municípios.
Apesar de indústrias como a de marisco e produtos farmacêuticos ainda serem altamente controladas, outros setores, como a agricultura, já apresentam uma ligeira abertura. Enquanto isso, o círculo de elites – estimada em cerca de 50 famílias e duas mil pessoas – segue como forte influência no funcionamento econômico do Estado.
Estima-se que o pequeno grupo desempenhe funções importantes na facilitação e execução de políticas, assim como o controle de operações, recursos e informações. A medida é essencial para manter a dinastia Kim e o status quo norte-coreano, apontou a pesquisadora sênior do Brookings Institution, Jung H. Pak.
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