A guerra da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022 e que está longe de ser unanimidade entre as elites russas, não tem registrado baixas somente no campo de batalhas. Conforme avança o conflito, que ainda não tem um desfecho despontando no horizonte, acumulam-se também mortes misteriosas de empresários e políticos russos, gerando teorias de conspiração diversas. O caso mais recente é o de Pyotr Kucherenko, vice-ministro da Ciência e Educação Superior, que morreu no sábado (20) após adoecer no avião quando retornava de uma viagem a Cuba. As informações são da rede CNN.
“Kucherenko estava passando mal em um avião com uma delegação russa que voltava de uma viagem de negócios a Cuba. O avião pousou na cidade de Mineralnye Vody, onde os médicos tentaram atendê-lo”, disse o ministério em comunicado divulgado em seu site, acrescentando que a vida do político não pôde ser salva.
Embora a própria família tenha sugerido um problema cardíaco como possível causa, um episódio paralelo torna a morte suspeita. Roman Super, um jornalista que deixou a Rússia pouco após o início do conflito, disse em seu canal do Telegram que Kucherenko temia por sua segurança.
De acordo com Super, os dois tiveram uma conversa em fevereiro de 2022, na qual o ministro encorajou o jornalista a fugir do país. “Salve você e sua família. Saia o mais rápido possível. Você não pode imaginar o grau de brutalização do nosso Estado. Em um ano você não reconhecerá a Rússia. Ao sair, você estará fazendo a coisa certa”, Kucherenko teria dito.
Questionado por Super se ele mesmo pretendia deixar o país, o político refutou a ideia. “Não é mais possível fazê-lo. Tiram nossos passaportes. E não existe um mundo onde eles agora ficarão felizes com o vice-ministro russo após esta invasão fascista”, afirmou ele, de acordo com o jornalista.
A síndrome da morte súbita russa
Casos como o de Kucherenko, que acabam sem um esclarecimento convincente, tornaram-se habituais nos últimos meses na Rússia. Em dezembro de 2022, a jornalista norte-americana Elaine Godfrey publicou um artigo na revista The Atlantic no qual listou diversas mortes suspeitas de importantes figuras que não estavam totalmente alinhadas com o Kremlin.
“Cerca de duas dúzias de russos notáveis morreram em 2022 de maneiras misteriosas, algumas horrivelmente”, diz a jornalista no artigo.
Pouco antes da publicação do texto, o empresário Pavel Antov havia sido encontrado morto em um hotel na Índia dois dias após a morte de um dos companheiros de viagem russos no mesmo local. Nas palavras de Godfrey, Antov “teria expressado uma perigosa falta de entusiasmo pela guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia“.
Já Leonid Shulman e Alexander Tyulakov foram encontrados mortos com notas de suicídio no início do ano passado. Depois, no período de um mês, mais três executivos russos, Vasily Melnikov, Vladislav Avayev e Sergey Protosenya, igualmente morreram em aparentes assassinatos-suicídios.
Um caso que atraiu atenção global, em maio de 2022, foi o de Andrei Krukovsky, proprietário de um resort em Sochi cujo corpo foi localizado no sopé de um penhasco. Uma semana depois, Aleksandr Subbotin, gerente de uma empresa de gás russa, morreu na casa de um xamã de Moscou, após ter sido supostamente envenenado com veneno de sapo.
O artigo cita outros nomes: Yuri Voronov, encontrado boiando em sua piscina no subúrbio de São Petersburgo com um ferimento de bala na cabeça em julho; Dan Rapoport, crítico de Putin nascido na Letônia, que aparentemente caiu da janela de seu apartamento em Washington, a um quilômetro e meio da Casa Branca, em agosto; Ravil Maganov, presidente de uma empresa petrolífera russa, que caiu de uma janela de seis andares em Moscou; o diretor de TI Grigory Kochenov, que caiu de uma sacada; e um magnata imobiliário russo que caiu fatalmente em um lance de escadas.
Ao sugerir que o governo russo poderia estar por trás das mortes, a jornalista destaca casos notórios de dissidentes envenenados, como o oposicionista político Alexei Navalny e o desertor dos serviços de segurança russos Alexander Litvinenko.
“A onda de mortes deste ano, tão descarada em seu número e método que sugere uma falta de preocupação com a negação plausível, ou mesmo implausível, é possivelmente a maneira de Putin alertar as elites russas de que ele é aquele polvo mortal”, diz o artigo. “O objetivo de eliminar os críticos, afinal, não é necessariamente eliminar as críticas. É para lembrar aos críticos, com o máximo de talento possível, qual pode ser o preço de expressar essa crítica”.
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