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sábado, 31 de dezembro de 2022

Regime brutal de Mianmar dribla embargo e mantém acesso a um poderoso arsenal

Em fevereiro deste ano, um ano após o golpe de Estado promovido por militares em Mianmar, a ONU (Organização das Nações Unidas) pediu um embargo global de armas para enfraquecer a junta que assumiu o governo. Não adiantou. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos fornecidos por China, Rússia e Paquistão, à medida que o número de civis mortos cresce. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Na época, em um relatório de de 40 páginas, Tom Andrews, relator especial sobre a situação dos direitos humanos em Mianmar, relatou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que Estados-membro da organização continuaram a vender armas para a junta, mesmo em meio a um aumento das baixas civis.

Atualizando para dezembro, novas evidências vieram à tona de que o pedido de sanções feito por Andrews não foi atendido, ou pelo menos não foi adotado com suficiente intensidade a ponto de enfraquecer o poder de fogo do governo militar birmanês. 

Caça Sukhoi Su-30, reforço vindo da Rússia (Foto: WikiCommons)

Isso ficou claro no último dia 15, quando, durante uma celebração do 75º aniversário da força aérea de Mianmar, líderes da junta apresentaram novos caças e helicópteros de ataque comprados da Rússia, China e Paquistão.

Entre os destaques do pacote estão sofisticados caças Sukhoi Su-30, de Moscou, e jatos FTC-2000G, de Beijing, comprados após o golpe e usados nos ataques aéreos em andamento do regime contra civis e forças de resistência que lutam ao lado de grupos étnicos armados em todo o país.  

Segundo o vice-diretor da Divisão da Ásia da ONG Human Rights Watch, Phil Robertson, a organização que ele representa pressionou por um embargo de armas desde o golpe, que ocorreu no dia 1º de fevereiro de 2021. 

“Mas essa demanda caiu no mesmo abismo político no Conselho de Segurança da ONU que condenou a ação coletiva em outras crises, como a Síria”, disse ele. 

A ONU diz que mais de 40 países, a maioria do Ocidente, decretaram embargos de armas contra Mianmar. No entanto, segundo o analista político e militar birmanês Hla Kyaw Zaw, “obter uma adesão mais ampla é improvável, dados os interesses concorrentes dos países”.

“Mesmo que a China e a Rússia não vendessem armas aos militares de Mianmar, alguns países ocidentais o fariam”, disse ele, acrescentando que “os países do mundo nunca teriam a mesma opinião sobre quaisquer questões”.

Enquanto isso, as mortes seguem aumentando no país. De acordo com os dados recolhidos pela RFA, 81 civis foram mortos e 144 feridos pelos ataques aéreos da junta e uso de artilharia e minas terrestres apenas em agosto e setembro.

Falando em outubro ao comitê de direitos humanos da Assembleia Geral da ONU, a enviada especial Noeleen Heyzer relatou que mais de 13,2 milhões de birmaneses não têm o suficiente para comer e 1,3 milhão estão deslocados de suas casas.

Em meio a isso, militares que deram um golpe de Estado e tomaram o poder central em fevereiro de 2021 continuam bombardeando indiscriminadamente, destruindo casas e prédios e matando civis.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU. A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

Inicialmente, o golpe em Mianmar foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Atualmente, no entanto, Beijing frequentemente se coloca ao lado dos militares ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. O país também é um dos principais fornecedores de armas para a juntar militar.

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