O Wagner Group, organização paramilitar privada associada ao governo da Rússia, recebeu da Coreia do Norte um carregamento de armas para serem usadas na guerra na Ucrânia. A revelação foi feita na quinta-feira (22) pela Casa Banca, segundo informações divulgadas com exclusividade pela agência Reuters.
De acordo com John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Moscou encarregou os mercenários de buscar um fornecedor de armamento, e Pyongyang surgiu como alternativa. A Rússia tem encontrado dificuldade para equipas suas tropas no conflito devido às sanções ocidentais.
“Podemos confirmar que a Coreia do Norte completou uma entrega inicial de armas ao Wagner, que pagou por esse equipamento. No mês passado, a Coreia do Norte entregou foguetes de infantaria e mísseis à Rússia para uso do Wagner“, disse Kirby a repórteres.
As sanções não impedem a Rússia de importar apenas itens de uso militar direto. Elas também limitaram o acesso de Moscou a artigos eletrônicos cruciais para a fabricação de armamento de última geração, como mísseis de cruzeiro de alta precisão, destaque no arsenal russo.
Mesmo a China, aliada da Rússia e à primeira vista uma opção segura para fornecer artigos de uso militar, tem se recusado a negociar. Isso porque Washington já deixou claro que as empresas chinesas seriam punidas caso rompessem as sanções focadas na cadeia de suprimentos militares.
No caso da Coreia do Norte, essa preocupação não existe porque o país já é sancionada pelo governo norte-americano, estando assim isolado comercialmente. Ou seja, não tem nada a perder ao negociar.
Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente Vladimir Putin e chefe da organização paramilitar russa, negou a informação. “Todo mundo sabe que a Coreia do Norte não fornece nenhuma arma para a Rússia há muito tempo. E nenhum esforço desse tipo foi feito”, disse ele em comunicado. “Portanto, o fornecimento de armas da Coreia do Norte não passa de fofoca e especulação”.
Segundo Washington, porém, o acordo é amplo e prevê novas entregas de armamento por Pyongyang aos mercenários russos. A projeção é de que os fornecimento das armas não mude a dinâmica da guerra, mas ajude a equipar os soldados russos em meio às escassez enfrentada pelas forças armadas do país.
Denúncias anteriores
Esta não é a primeira denúncia de que Pyongyang e Moscou firmaram um acordo para fornecimento de equipamento que vai além de armas. Em novembro, três fontes que tiveram a identidade mantida sob sigilo afirmaram à rede Radio Free Asia (RFA) que três fábricas norte-coreanas têm produzido uniformes de inverno e outros itens para o exército da Rússia.
O acordo infringe a resolução 2375 do Conselho de Segurança da ONU, de 11 de Setembro de 2017. Diz o texto que acordos comerciais para compra de produtos têxteis provenientes da Coreia do Norte são permitidos somente se tiverem sido aprovados “previamente e caso a caso”. O que não ocorre na atual parceira firmada entre Moscou e Pyongyang.
A embaixada russa na Coreia do Norte chegou a emitir um comunicado confirmando a intenção de adquirir roupas e calçados dos norte-coreanos. Disse, porém, que um acordo nesse sentido deveria ser “implementado em estrita conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que proíbem a importação de certos bens da RPDC (República Popular Democrática da Coreia)”.
Também no mês passado, o think tank norte-americano 38 North, que monitora o país asiático, afirmou que cargas misteriosas vêm sendo enviadas pelo regime de Kim Jong-un ao território russo por uma linha ferroviária que estava desativada há anos e agora voltou a operar.
Imagens de satélite foram usadas para confirmar que o trem voltou a funcionar na Ponte da Amizade Tumangang, única ligação terrestre entre Rússia e Coreia do Norte, que estava fechada desde 2020 em função da pandemia de Covid-19.
“É impossível determinar a finalidade do trem a partir das imagens, mas a travessia ocorre em meio a relatos de vendas de armas da Coreia do Norte para a Rússia e uma expectativa geral de retomada do comércio entre os dois países”, disse o think tank na ocasião.
Moscou já havia negado a informação de que vinha recebendo armas da Coreia do Norte, tendo antes classificado tais relatos como “falsos do início ao fim”.
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