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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Chineses vão a Macau como turistas em busca de vacinas ocidentais contra a Covid

Com medo do recente surto de Covid-19 que atinge a China, cidadãos chineses têm optado por viajar até Macau em busca de vacinas ocidentais que não são oferecidas por Beijing. Somente uma clínica privada da região autônoma oferece as doses, mediante pagamento de cerca de US$ 170 (R$ 878), e a agenda está totalmente lotada, segundo o jornal Financial Times.

O governo chinês não aprovou o uso no país de nenhuma vacina produzida no exterior, limitando seus cidadãos à inoculação com os imunizantes da Sinovac e da Sinopharm. Para especialistas, porém, o nível de imunidade fornecida pelas vacinas da China é mais baixo que o das ocidentais, que usam a tecnologia de RNA mensageiro, mais moderna.

Um estudo publicado neste mês pela revista de medicina Lancet em Singapura mostra que as vacinas chinesas, que usam a tecnologia do vírus inativado, mais antiga que a do RNA mensageiro, levam a uma probabilidade quase duas vezes maior de o indivíduo inoculado desenvolver Covid-19 grave.

Macau, região administrativa especial que pertence à China (Foto: WikiCommons)

Em outubro, os chineses que iam ao Hospital de Ciência e Tecnologia da Universidade de Macau, o único que administra as vacinas para turistas pagantes, conseguiam encontrar as doses sem problema. Já em meados de dezembro, devido ao aumento na procura, os agendamentos se esgotaram, e agora só haverá novas doses disponíveis para o ano que vem.

Segundo um funcionário do centro de saúde, a esperança daqueles que têm pressa na busca pela vacina reside no fato de que muitos chineses estão cancelando os agendamentos justamente porque contraíram a doença e não podem deixar a China continental no prazo.

Campanha de vacinação

Se as vacinas ocidentais são valorizadas, as chinesas são rejeitadas por muitos. Na China continental, o governo tenta convencer a população a aceitá-las e iniciou uma campanha de conscientização. A maior preocupação é com os cidadãos acima de 60 anos, alvo de uma campanha estatal que prevê até gratificação em dinheiro àqueles que aceitarem as doses, segundo a agência Associated Press (AP).

Beijing não divulgou os resultados dos testes com os imunizantes feitos em pessoas com mais de 60 anos, levando pessoas nessa faixa etária a acreditar em relatos de conhecidos que tiveram problemas de saúde logo receberem após a primeira dose. São pessoas que tiveram febre alta ou coágulos sanguíneos e, mesmo sem comprovação científica, os atribuem à vacina.

Ainda assim, o governo tem sido parcialmente bem sucedido na campanha, que fez dobrar para 3,5 milhões o número de pessoas vacinadas diariamente no país, dados esses registrados no dia 23 de dezembro.

Por que isso importa?

A China sofre com o aumento de casos de Covid-19 desde que suspendeu, no início de dezembro, a radical política Zero Covid cujo objetivo era erradicar a doença. A partir de então, a incidência da doença no país explodiu, embora Beijing não divulgue dados confiáveis sobre a quantidade de casos ou de mortes.

Até agora, Beijing relatou apenas 5.241 mortes em virtude da doença desde que a pandemia teve início, no final de 2019. No atual surto, iniciado neste mês, foram registradas apenas seis mortes. São números conservadoramente baixos, que parecem incompatíveis com os relatos nas redes sociais de hospitais superlotados e longas filas em crematórios.

O que ajuda a explicar o número oficial diminuto é que apenas as mortes causadas por pneumonia ou insuficiência respiratória são oficialmente contabilizadas como tendo sido causadas pela Covid-19. Assim, ficam fora das estatísticas oficiais as mortes de pessoas com doenças pré-existentes e infectadas pelo coronavírus.

Uma estimativa apresentada pela empresa de dados de saúde Airfinity fala em ate cinco mil pessoas mortas por dia devido à Covid na China. Já a taxa diária de casos registrados pode atingir 3,7 milhões até o mês que vem, com outro surto previsto para março que elevaria o pico diário para 4,2 milhões.

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