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domingo, 1 de janeiro de 2023

Treinados pelos EUA, ex-soldados de elite afegãos cogitam se unir às forças da Rússia

Eles foram treinados pelas tropas norte-americanas durante o período de ocupação do Afeganistão. Tiveram que fugir do país quando o Taleban assumiu o poder, em agosto do ano passado. Agora, milhares de soldados de elite afegãos, dizendo-se abandonados por Washington, cogitam aceitar a convocação do Wagner Group para atuar como mercenários ao lado das forças da Rússia na guerra em curso na Ucrânia. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Os combatentes que atuaram ao lado das forças de ocupação do Afeganistão estão entre os principais alvos dos talibãs, que os consideram traidores. Muitos conseguiram fugir do país, sendo o Irã um dos destinos preferenciais. Os que permaneceram no país após a ascensão dos radicais precisam se esconder, com relatos frequentes de militares executados sumariamente. Sem perspectiva de ganhar dinheiro e com a cabeça a prêmio, enxergam no Wagner Group uma tábua de salvação.

Em dezembro do ano passado, um relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) afirmou que mais de cem pessoas foram sumariamente executadas ou desapareceram nas mãos dos talibãs em 2021, sob acusação de traição. Um comportamento que vai na contramão da promessa feita pelos radicais quando assumiram o poder, de que anistiariam os antigos combatentes caso mostrassem arrependimento.

Soldados afegãos em ação contra o Taleban, abril de 2021 (Foto: Twitter/Ministry of Defense Afghanistan)
Futuros mercenários

Em um grupo do aplicativo de mensagens WhatsApp, ao qual a reportagem teve acesso, dezenas de militares afegãos falam sobre o medo de viver sob o governo talibã, a frustração com a falta de apoio dos EUA e a esperança de voltar à ativa a serviço da organização paramilitar privada russa, que desempenha papel central na guerra na Ucrânia.

No grupo, um ex-membro das forças especiais afegãs manifestou sua insatisfação com o regime ao qual serviu durante o período de ocupação estrangeira e diz que agora vai lutar a favor da Rússia. Ele classifica o antigo governo afegão como “traidor” e diz que ele e seus colegas militares foram “vendidos” pelos EUA e entregues aos “terroristas” do Taleban.

“Não tínhamos mais onde morar no Afeganistão, porque os terroristas do Taleban nos perseguiam”, disse o militar em uma mensagem de áudio publicada no WhastApp no dia 3 de dezembro. “Vários de nossos colegas foram capturados e decapitados, e fomos forçados a deixar o Afeganistão”.

O soldado em questão é um dos cerca de 30 mil militares afegãos que teriam ido para o Irã. Agora, diz que está pronto para se juntar ao Wagner Group. “A Rússia iniciou um programa. Eles estavam recrutando certas unidades e levando-as para a guerra na Ucrânia. Então, vários de nossos companheiros soldados se inscreveram e iremos para a Rússia em breve”, afirmou.

Um outro combatente de elite afegão disse no mesmo grupo de mensagens, também em 3 de dezembro, que Moscou oferece inclusive a cidadania russa a quem quiser combater ao lado de suas forças.

Quem também tem papel ativo nesse processo de recrutamento é o governo iraniano, que segue como um dos poucos aliados globais da Rússia e tem inclusive fornecido armamento para as tropas de Moscou. De acordo com esse segundo combatente, Teerã tem colaborado também com o transporte dos soldados afegãos do Irã para a Rússia.

“Estávamos no Afeganistão e havia muitos rumores espalhados de que ex-militares haviam ido para a Rússia através do Irã”, disse o soldado, que manteve o anonimato durante a conversa. “Nos registramos aqui no Irã. Eles transferiram algumas pessoas antes de nós”.

Já um ex-oficial das forças afegãs estima que 2,5 mil militares de seu país planejam se juntar às forças russas. Ele diz que recebeu US$ 2,5 mil quando chegou à Rússia, com a promessa de mais US$ 3 mil quando começar a lutar na Ucrânia. São dados semelhantes aos apresentados pelo próprio Wagner Group, que cita um salário mensal de US$ 1,5 mil e admite ter afegãos em suas fileiras.

O general Farid Ahmadi, ex-comandante do corpo de operações especiais do Afeganistão no período de ocupação estrangeira, admite que servir na Ucrânia é a esperança de salvação de muitos militares. “Sérios problemas econômicos e de segurança, pobreza extrema e desespero os forçaram a fazer isso por um pedaço de pão, para sobreviver e escapar da perseguição e tortura do Taleban”, disse ele.

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