“O Ocidente coletivo, que é liderado por uma potência nuclear, os Estados Unidos, está em guerra conosco”. A frase foi dita na quarta-feira (28) pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que também afastou a possibilidade de um acordo de paz com a Ucrânia. Ele se manifestou em entrevista a uma emissora estatal russa, cujo conteúdo foi reproduzido pela agência local Tass.
De acordo com o chefe da diplomacia de Moscou, a guerra contra o Ocidente “foi declarada contra nós há muito tempo, após o golpe de Estado na Ucrânia orquestrado pelos Estados Unidos e, de fato, apoiado pela União Europeia (UE)”.
O “golpe” ao qual Lavrov se refere foi o movimento Maidan, também conhecido como a Primavera Ucraniana, uma onda de protestos populares que ocorreu entre 2013 e 2014 e culminou com a deposição do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, apoiado pelo Kremlin.
Na visão de Moscou, o levante popular foi orquestrado por agências de inteligência norte-americanas e europeias, pouco após Yanukovych abandonar os planos de integração da Ucrânia à UE e optar por se associar à União Econômica da Eurásia, encabeçada pela Rússia. Apontado como líder de um governo fantoche submisso ao Kremlin, o então presidente acabou derrubado e fugiu para Moscou.
Rússia x EUA
As palavras de Lavrov contra o Ocidente surgem poucos dias após Washington confirmar o envio de um novo pacote militar a Kiev, anúncio feito durante a visita recente do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky à Casa Branca. O principal componente da lista de armas é o avançado sistema de defesa antiaérea Patriot.
Entretanto, o ministro russo russo disse que o envolvimento dos EUA no conflito continuará se resumindo ao envio de material bélico. Ele disse ter conversado com Washington “pelos canais que nossa embaixada ainda possui”. E questionou se militares norte-americanos seriam enviados para ensinar os ucranianos a operar o complexo sistema Patriot.
“Disseram-nos longamente que isso não está sendo planejado especificamente, porque os americanos não querem e não vão lutar diretamente contra a Rússia”, afirmou Lavrov. “Os sistemas Patriot serão implantados dentro de vários meses, à medida que os militares ucranianos se familiarizarem com essa tecnologia”, prosseguiu.
Paz mais distante
Outro assunto que opôs russos e norte-americanos nos últimos dias foi a possibilidade de um acordo de paz que venha a dar fim à guerra iniciada em 24 de fevereiro. Na quinta-feira passada (22), o presidente Vladimir Putin disse que Moscou quer o fim do conflito e que o cessar-fogo passa necessariamente por uma solução diplomática. Washington contestou a declaração, dizendo que as ações do líder russo mostram “exatamente o contrário”, segundo a agência Reuters.
Nesta quinta (29), Lavrov afastou ainda mais a possibilidade de um acordo e culpou a Ucrânia pelo fracasso, dizendo que as exigências do vizinho são inaceitáveis. “É óbvio que Kiev não está pronta para o diálogo”, disse ele à agência estatal RIA Novosti, cujo conteúdo foi reproduzido pela revista Newsweek.
“Apresentando todo tipo de ideias e ‘fórmulas de paz’, Zelensky alimenta a ilusão de conseguir, com a ajuda do Ocidente, a retirada de nossas tropas dos territórios russos de Donbass, Crimeia, Zaporizhzhya e Kherson, o pagamento de reparações pela Rússia, a rendição a tribunais internacionais e afins”, afirmou o ministro. “É claro que não falaremos com ninguém nessas condições”, sentenciou.
A ‘fórmula de paz’ foi sugerida por Zelensky em novembro, em um discurso virtual na cúpula do G20. Ele listou condições para que um acordo fosse estabelecido, entre elas a segurança nuclear, a segurança energética, a libertação de prisioneiros e civis deportados, a retirada integral das tropas russas e a restauração da integridade territorial da Ucrânia.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, já havia dito na quarta-feira (28) que tais condições são inaceitáveis. Segundo ele, não pode haver plano de paz “que não leve em conta a realidade de hoje em relação ao território russo, com a entrada das quatro regiões na Rússia”. E reforçou a posição de Lavrov: “Nenhum plano que não leve em conta essa realidade pode se dizer pacífico”.
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