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segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Taleban do Paquistão toma policiais como reféns e expõe fragilidade do combate ao terror no país

Um grupo de cerca de 30 integrantes do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, conseguiu dominar os agentes que os interrogavam em uma estação de polícia e assumiu o controle do local. Trata-se de mais um episódio que expõe a incapacidade das autoridades paquistanesas para conter a facção extremista. As informações são da da agência Asssociated Press.

Os talibãs estavam presos há anos no centro de detenção e conseguiram reagir durante interrogatório de rotina. Um oficial de polícia foi morto, e os extremistas assumiram o controle da estação usando as armas dos agentes. Cerca de dez policiais foram feitos reféns.

O episódio ocorreu nesta segunda-feira (19) em Bannu, distrito da província de Khyber Pakhtunkhwa, perto da fronteira com o Afeganistão e local de forte atuação do TTP. Na mesma região, no dia 16 de novembro, seis policiais foram mortos quando ainda estava em vigor o cessar-fogo firmado entre os insurgentes e o governo central.

Soldado do exército do Paquistão, foto de novembro de 2018 (Foto: Wikimedia Commons)

O acordo firmado por Islamabad com o TTP em junho parecia ser a única forma de o governo tentar manter a violência dos talibãs sob controle. Porém, os rebeldes anunciaram no fim do pacto no dia 28 de novembro e ordenaram a seus seguidores que passassem a realizar novos ataques contra as forças do governo.

Quando fez o anúncio, o Taleban do Paquistão afirmou que demonstrou “paciência contínua para que o processo de negociação não fosse sabotado”, mas os termos não foram respeitados por Islamabad. “Então, agora nossos ataques de retaliação também começarão em todo o país”, declararam os radicais.

Mohammad Ali Saif, porta-voz do governo provincial, confirmou que o episódio desta segunda ocorreu durante o interrogatório dos extremistas. O governo regional, então, enviou reforços e passou a negociar com os sequestradores, que ameaçaram matar todos os reféns se não fossem autorizados a fugir em segurança.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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