A presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, anunciou na quarta-feira (21) um acordo com uma empresa estatal da China, que emprestará ao país US$ 2,2 bilhões para concluir as obras de uma linha ferroviária de 2,5 mil quilômetros. O projeto é alvo de críticas pelo tamanho da dívida que será contraída pelo país africano. As informações são da rede Garowe.
“Eu sei que nossos críticos estão nos culpando por aceitar esses empréstimos, mas eles devem entender que uma infraestrutura melhor é a chave para impulsionar o crescimento em nosso país e também tornar a Tanzânia competitiva em nível regional”, disse ela ao anunciar o acordo.
O projeto está inserido na Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), uma iniciativa implementada oficialmente em 2013 pelo presidente chinês Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura em todo o mundo e assim espalhar globalmente a influência de Beijing.
“Temos que tomar empréstimos para esta importante infraestrutura e outros projetos de desenvolvimento sustentável porque não temos recursos locais suficientes”, afirmou a presidente da Tanzânia sobre o acordo em tela.
O problema é que, atualmente, muitas das nações inseridas na BRI estão em situação financeira dramática, e manter em dia o pagamento das dívidas é missão quase impossível. Assim, fica configurada uma “armadilha da dívida”.
A inadimplência é parte da estratégia da China, que invariavelmente a usa como justificativa legal para assumir a gestão dos próprios projetos que financiou. Assim, estende os tentáculos do Partido Comunista Chinês (PCC) ao assumir o controle de infraestruturas cruciais. Esse é justamente o motivo das críticas direcionadas à Tanzânia por aceitar o empréstimo.
A obra custeada e tocada por Beijing finalizará a linha ferroviária Tabora-Kigoma, que ligará o porto de Dar es Salaam, no Oceano Índico, à cidade de Mwanza. As obras tiveram início em 2019, e a previsão agora é de que sejam concluídas em 2026. Ainda estão previstas eventuais ramificações para países vizinhos, Burundi, República Democrática do Congo (RDC), Ruanda e Uganda.
“Acredito que, assim que esta nova SGR (ferrovia de bitola padrão, da sigla em inglês) for concluída, a Tanzânia estará em melhor posição para utilizar seu posicionamento geográfico estratégico para facilitar o comércio transfronteiriço”, disse Hassan.
Desconfiança global
A China é o maior investidor na África, injetando bilhões de dólares em ferrovias, portos e aeroportos. Porém, a estratégia predatória de Beijing para com seus “parceiros” gera desconfiança global e faz as críticas à BRI se acumularem.
A situação levou as nações ocidentais, capitaneadas pelos EUA, a aumentar o investimento na África, a fim de tentar conter a crescente influência chinesa. Tanto que, na semana passada, o presidente norte-americano Joe Biden recebeu 49 líderes de nações africanas e da União Africana (UA), além de representantes de mais de 300 empresas, para a Cúpula de Líderes EUA-África.
Segundo a estratégia de Washington para a África subsaariana, documento divulgado em agosto, Beijing vê a África subsaariana “como uma arena importante para desafiar a ordem internacional baseada em regras, promover seus próprios interesses comerciais e geopolíticos estreitos, minar a transparência e a abertura e enfraquecer as relações dos EUA com os povos africanos e governos”.
Por ocasião da cúpula, o endividamento dos africanos voltou aos holofotes e levou o embaixador chinês nos Estados Unidos, Qin Gang, a se manifestar. “A assistência financeira e de investimento da China para a África não é uma armadilha. É um benefício”, disse ele, segundo a agência Reuters. “A China não é o maior credor das dívidas africanas. A dívida da China é apenas uma pequena quantia”.
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