Um ataque realizado por homens armados matou três soldados do exército do Paquistão na província de Khyber Pakhtunkhwa, perto da fronteira com o Afeganistão, na noite de quarta-feira (28), horário local. A informação foi confirmada pelos serviços de inteligência paquistaneses à rede Radio Free Europe (RFE).
As fontes, que pedem para ter a identidade preservada, afirmaram que os agressores vieram do território afegão. Durante o confronto com as forças paquistanesas, um dos militantes foi morto pelos soldados. O Taleban, que governa o Afeganistão, não se pronunciou sobre o ataque.
Já o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão e que tem realizado frequentes ataques contra as forças de segurança de seu país, não assumiu a autoria da ação. O grupo recentemente desistiu de um cessar-fogo que vinha sendo negociado com Islamabad e voltou a atuar em áreas onde sempre marcou forte presença.
O general Asim Munir, novo comandante do exército do Paquistão, afirmou que o país passará a realizar operações de contraterrorismo contra todos os grupos radicais da região, no que parece uma mensagem direcionada ao Taleban afegão e a seu maior rival doméstico, o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).
Por que isso importa?
Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.
O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro de 2021, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.
Na época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, mas confrontos esporádicos continuam a ocorrer.
A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.
Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.
Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.
O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.
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