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domingo, 11 de dezembro de 2022

Covid atingirá 90% dos chineses e pode criar novo problema global, dizem especialistas

O afrouxamento das medidas de combate à Covid-19 na China, anunciado na semana passada, pode ser visto com bons olhos pela população, que ignorou a dura repressão estatal e foi às ruas protestar contra a radical política Zero Covid de Beijing. Para especialistas em saúde, porém, a novidade tende a ser um problema, com a projeção de que até 90% da população chinesa seja contaminada pelo coronavírus, o que futuramente refletiria negativamente em todo o mundo. As informações são da revista Fortune.

Entre as medidas de flexibilização, doentes assintomáticos ou com sintomas leves serão autorizados a se isolar em casa, não mais em instalações do governo. Testes de PCR e o aplicativo de monitoramento de saúde deixarão de ser obrigatórios para acessar locais públicos. Já os bloqueios de rua, que antes atingiam distritos inteiros, agora serão menores, concentrados em andares ou edifícios específicos.

Para Feng Zijian, ex-vice-chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, essas mudanças tendem a espalhar o vírus por todo o país, com até 60% da população infectada em um primeiro momento. Mais tarde, ele calcula que a Covid-19 atingirá até 90% dos chineses.

Equipe de controle de Covid em uma estação de metrô de Beijing, na China (Foto: WikiCommons)

“Será inevitável para a maioria de nós ser infectado uma vez, independentemente de como as medidas de combate à Covid são ajustadas”, disse Feng. Para se ter ideia, os Estados Unidos calcularam em abril deste ano que 60% dos norte-americanos haviam contraído a doença, contra 34% em dezembro de 2021.

O problema na China é justamente o fato de que os cidadãos ficaram trancados durante muito tempo, o que reduziu entre os chineses a imunidade encontrada em outros países. Aumenta a preocupação a baixa taxa de vacinação entre os idosos, sendo que apenas 40% das pessoas a partir dos 80 anos receberam a terceira dose da vacina.

Segundo Anthony Fauc, consultor médico da Casa Branca, a situação tende a afetar também os demais países, com o risco de que novas variantes da Covid surjam na China e posteriormente se espalhem.

Reflexos na economia

Apesar dos riscos, a flexibilização era inevitável, segundo analistas. E não tanto pelos protestos, mas pelo impacto que os bloqueios geram à economia chinesa. A expectativa é de que o crescimento do PIB (produto interno bruto) neste ano não atinja os 5,5% previstos por Beijing. Uma pesquisa da Bloomberg com economistas fala em apenas 3,2%.

Já as exportações da China ano a ano caíram 8,7% em novembro, o maior declínio em dois anos e um número muito pior que o previsto, de 3,5%. Inclusive, grandes empresas passaram a considerar a possibilidade de deixar o país devido aos fechamentos na indústria .

Um caso que chamou a atenção foi o da Apple, que passou a considerar uma mudança para a Índia após o fechamento temporário da fábrica da cidade de Zhengzhou, onde funcionários foram às ruas protestar contra o não pagamento de seus salários em meio aos bloqueios impostos pelo governo.

Entretanto, mesmo a reabertura gradual do país tende a não solucionar o problema. Zhang Zhiwei, economista-chefe da Pinpoint Asset Management, afirma que “muitas pessoas ficarão doentes, o que pode resultar no fechamento de fábricas ou instalações incapazes de funcionar com capacidade total”.

Protesto no Brasil

Em Brasília, o movimento Democracia Sem Fronteiras (DSF) voltou a se manifestar contra a radical política de clausura imposta pelo governo da China para combater a Covid. Em frente ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), o grupo projetou mensagens de contestação, como “Liberdade ao povo chinês”.

“Entendemos a importância dos cuidados para que a gente não viva o pesadelo vivido nos últimos dois anos com a Covid”, disse o DSF. “Entretanto, o que a China vem fazendo é contra os direitos humanos“.

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