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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Os riscos de se negociar um fim para a guerra na Ucrânia

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no think tank Carnegie Endowment for International Peace

Por Gwendolyn Sasse

Os ataques aéreos russos contra cidades ucranianas continuam tendo como alvo a infraestrutura crítica e os civis em uma tentativa de quebrar a determinação da população ucraniana.

A máquina de guerra da Rússia demonstra diariamente do que se trata este conflito: a destruição do Estado ucraniano e da nação ucraniana.

O reparo da infraestrutura é uma corrida contra o tempo, com as temperaturas do inverno tornando cada queda de energia e interrupção do sistema de aquecimento ou abastecimento de água potencialmente mortal. Sofrimento humano em grande escala e mais deslocamentos fazem parte do cálculo russo.

No terreno, as tropas ucranianas preparam-se para novas ofensivas, mas também sob pressão, mais recentemente na região de Donbass, onde a Rússia voltou a concentrar os seus esforços depois de ter de recuar da cidade de Kherson e de alguns dos seus arredores.

Embora ainda haja amplo apoio à Ucrânia em sua defesa contra a agressão da Rússia na maioria das capitais ocidentais, a ideia de um fim negociado para esta guerra surgiu repetidamente. E vem ganhando um novo impulso.

A diferença é que, desta vez, a vaga ideia de negociações foi transmitida por autoridades estatais dos EUA, incluindo o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, em recente viagem a Kiev . A assistência militar dos EUA à Ucrânia tem sido fundamental para a defesa do país desde fevereiro de 2022, mas o escopo e o custo desse tipo de apoio passaram por um exame mais minucioso recentemente por setores do Partido Republicano.

Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, está ansioso para enfatizar publicamente que o momento não é propício para negociações, o presidente francês, Emmanuel Macron, alimentou novas dúvidas sobre os compromissos dos Estados Unidos e da UE (União Europeia) com a Ucrânia.

Ao retornar em 2 de dezembro de sua visita a Washington, Macron falou não apenas sobre a necessidade de negociações, mas também sobre garantias de segurança concretas para a Rússia dentro de uma futura ordem de segurança europeia. Macron referiu-se explicitamente ao alargamento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para leste como sendo inaceitável para a Rússia.

Ucraniana observa escola destruída em bombardeio russo (Foto: Ashley Gilbertson/Unicef)

Esta declaração disparou o alarme em outras capitais ocidentais, inclusive em Berlim – geralmente um aliado próximo de Paris. Macron parece ter esquecido que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky havia colocado a neutralidade da Ucrânia em negociação apenas algumas semanas após o início da invasão em grande escala da Rússia. Naquela época, o presidente russo, Vladimir Putin, não tinha interesse em negociar sobre esta questão, deixando claro que esta guerra não é sobre a Otan, mas sobre a soberania ucraniana.

O chanceler alemão Olaf Scholz também foi criticado por sua conversa telefônica mais recente com Putin em 2 de dezembro. Enquanto Putin aparentemente pressionou Scholz a abandonar o apoio militar alemão à Ucrânia e pedir negociações, Scholz teria apontado para a necessidade da retirada de tropas russas do território ucraniano antes que as negociações possam começar.

Há incerteza na mídia europeia e no discurso público sobre a posição de Scholz nas negociações. Apesar do aumento dos preços da energia e de outros custos de vida, o público alemão ainda exibe apoio majoritário à Ucrânia, inclusive para assistência militar. Mas, quando a pergunta adicional sobre os esforços diplomáticos para acabar com a guerra é colocada nas pesquisas de opinião, a partir de novembro, agora também há uma maioria expressando o desejo de mais engajamento nesse sentido.

A opinião pública em algumas partes da UE é cada vez mais contraditória: o apoio contínuo à Ucrânia, inclusive por meio de assistência militar, é expresso juntamente com o desejo de mais diplomacia.

Este é precisamente o tipo de discrepância que Putin e o Estado russo pretendem expor para virar a mesa a seu favor. Vários membros da elite russa falaram sobre a possibilidade de negociações – sem, no entanto, exibir qualquer vontade política séria de fazer concessões ou se retirar da Ucrânia.

As declarações sobre o escopo das negociações foram feitas principalmente pelo porta-voz presidencial Dmitry Peskov, apenas para serem invalidadas logo depois por outro funcionário – por exemplo, por Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa. Essa variação de ênfase tem dois objetivos: primeiro, faz parte da comunicação do Kremlin com o público doméstico, que erroneamente coloca a Ucrânia no papel de parte que não quer acabar com esta guerra. A culpa, assim, muda da Rússia para a Ucrânia e seus apoiadores ocidentais, que são retratados como se estivessem prolongando deliberadamente a guerra.

O segundo objetivo é criar incerteza sobre os planos da Rússia, de modo a fornecer uma plataforma para aqueles no Ocidente que defendem negociações e ampliar desejos latentes da sociedade em países como Alemanha ou França.

Nos últimos meses, as discussões sobre a reconstrução na Ucrânia ganharam força – em Kiev, mas também em Bruxelas e na reunião consultiva em Berlim em 25 de outubro, patrocinada pela Alemanha, Ucrânia e o G7.

À luz da destruição da infraestrutura, é importante deixar claro que a reconstrução da Ucrânia começa agora, não em algum ponto distante no futuro após o fim desta guerra. Também deve ficar claro, no entanto, que a reconstrução não pode ser separada de mais assistência militar.

Somente a combinação de assistência militar e esforços de reconstrução agora colocará a Ucrânia na posição de decidir se e quando quer negociar. No momento, qualquer cessar-fogo ou negociação de paz só pode ter um efeito: ganhar tempo para a Rússia se reagrupar e retomar seus ataques na primavera.

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