O governo da Bulgária contestou, na quinta-feira (29), a decisão da Rússia de colocar na lista de criminosos procurados o jornalista búlgaro Christo Grozev, editor-chefe do site investigativo Bellingcat. Segundo Sófia, trata-se de uma ação intimidatória de Moscou para amordaçar a imprensa. As informações são da agência Reuters.
“Este ato é inaceitável. Representa um ataque à liberdade de expressão e uma tentativa de intimidar um cidadão búlgaro”, disse o primeiro-ministro interino Galab Donev, que convocou a embaixadora da Rússia em Sófia, Eleonora Mitrofanova, para dar explicações.
O próprio jornalista usou o Twitter para reproduzir a justificativa de Mitrofanova. “A embaixadora russa diz que não sabe por que estou na lista de ‘Procurados’ da Rússia, mas que ‘não vamos persegui-lo pelo mundo, e isso significa apenas que mais uma vez estamos dizendo que ele não é desejado aqui’.
Então… eles me ‘procuram’ para me dizer que não me ‘querem’?”.
Russian ambassador says she doesn't know why I am on Russia's "Wanted" list, but that "we won't chase him around the world, and this just means that one more time we are telling him he's not wanted here".
— Christo Grozev (@christogrozev) December 29, 2022
So.. they "want" me, to tell me they not "want" me?https://t.co/wmedq5CHXo
Segundo comunicado publicado pelo Ministério do Interior da Rússia nesta semana, Grozev é “procurado por infração a um artigo do Código Penal”. O Bellingcat, site do qual ele é editor, tem denunciado abusos diversos do governo russo, como os envenenamentos do opositor Alexei Navalny e do ex-agente duplo Sergei Skripal, que Moscou nega ter cometido.
Por que isso importa?
A repressão à livre manifestação do pensamento aumentou drasticamente na Rússia durante a guerra na Ucrânia, iniciada no dia 24 de fevereiro. Levantamento feito pela ONG Roskomsvoboda, que monitora a liberdade na internet, aponta que o Kremlin bloqueou no país o aceso a uma média de 4,9 mil sites por semana em 2022.
Somente na primeira semana de dezembro, a Roskomsvoboda afirma que o governo bloqueou 14,8 mil sites, quebrando uma marca que durava mais de um. No total, existem atualmente 640 mil páginas de internet cujo acesso é proibido no país, de acordo com os dados divulgados pela entidade.
A última vez em que um movimento tão intenso de censura digital havia sido notado foi em abril de 2021, quando milhares de cidadãos foram às ruas em apoio ao político oposicionista Alexei Navalny, principal rival doméstico do presidente Vladimir Putin. Naquela ocasião, ao longo de uma semana, 18,1 mil sites foram bloqueados.
O Roskomnadzor, órgão estatal que monitora a internet na Rússia, tem atuado inclusive para facilitar o processo repressivo online. Um projeto de lei atualmente em debate visa a desobrigar a Procuradoria-Geral russa de divulgar justificativas sobre bloqueios de sites. Antes mesmo da aprovação, porém, os dado começaram a desaparecer, e já é bastante difícil saber quais paginas estão inacessíveis e por quê.
Atualmente, a Procuradoria-Geral tem autorização para bloquear sites por razões diversas. A principal delas é a divulgação de informações a respeito da guerra na Ucrânia e da atuação das forças armadas, caso sejam consideradas irregulares pelo governo.
Pedidos feitos por promotores federais bloquearam 138 mil sites somente durante o período da guerra. Entre eles, praticamente todos os veículos de imprensa independentes do país, de forma a impedir o aceso do cidadão russo a notícias que não passem pelo filtro do governo. As principais redes sociais ocidentais, como Facebook, Instagram e Twitter, também estão fora da internet na Rússia.
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