O governo de Burkina Faso cedeu uma mina ao Wagner Group como pagamento pelos serviços prestados pelo grupo paramilitar russo no combate aos extremistas no país africano. A informação foi divulgada por Nana Akufo-Addo, presidente de Gana, segundo quem a presença dos mercenários na nação vizinha “é particularmente angustiante para nós”. As informações são da agência Associated Press (AP).
Akufo-Addo fez a revelação durante a Cúpula de Líderes EUA-África, que começou na última terça-feira (13) em Washington sob a liderança do presidente norte-americano Joe Biden. Entre so temas debatidos no encontro esta o combate à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI), cuja presença no continente africano é cada vez maior.
A presença do Wagner em Burkina Faso está atrelada ao recente golpe de Estado que colocou no poder o capitão Ibrahim Traoré. Ele derrubou o antecessor, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, sob o argumento de que não vinha tendo sucesso na luta contra grupos extremistas islâmicos que desde 2015 marcam presença no país. Os mercenários russos surgiram como parceiros na luta contra os insurgentes.
A chegada dos mercenários é apenas um dos sinais evidentes de aumento da influência russa na África, em particular em Burkina Faso. Após o golpe, muitos manifestantes foram às ruas saudar o novo governo, e bandeiras da Rússia foram vistas nas mãos dos cidadãos burquinenses que também protestaram contra a presença da França, tradicional aliada dos governos locais nas operações de contraterrorismo.
Recentemente, o primeiro-ministro de Burkina Faso, Apollinaire Joachim Kyelem de Tambela, foi a Moscou para um encontro que visava a “consolidar os esforços da comunidade internacional no combate à ameaça terrorista”, segundo afirmou o Kremlin em comunicado.
Antes, no início de dezembro, a mineradora russa Nordgold, que há mais de uma década opera em Burkina Faso, recebeu a concessão de exploração de uma reserva mineral que tende a movimentar US$ 8 bilhões durante os próximos quatro anos, tempo de duração do contrato. Até onde se sabe, não há relação direta entre a mina cedida ao Wagner Group e o contrato com a Norgold.
Por que isso importa?
Atualmente, o Wagner Group marca presença em ao menos seis países africanos. Para isso, conta com o suporte da propaganda do Kremlin, que há anos realiza uma campanha de influência no continente, sobretudo focada em nações politicamente instáveis. O governo russo faz uso das redes sociais para difundir uma imagem favorável junto à população local e atua até mesmo para influenciar os protestos de rua.
Os golpes em Burkina Faso estão atrelados à questão russa. Foi assim na derrubada do governo democrático que colocou Damiba no poder no início do ano. Segundo o think tank norte-americano Atlantic Council, “o conteúdo pró-russo se espalhou nas mídias sociais da África Ocidental nos meses que antecederam o golpe militar de janeiro de 2022 que derrubou o governo de Burkina Faso”.
A questão russa foi novamente relevante na ascensão de Traoré. Um oficial militar baseado no Sahel, cuja identidade não foi revelada, diz que Damiba chegou a cogitar a possibilidade de contratar os mercenários. Porém, ele mudou de ideia e incomodou o alto escalão das forças armadas burquinenses, o que abriu espaço para Traoré assumir.
“[Damiba] Poderia ter trazido assessores, ou armas, ou o Wagner, ou o que quer que seja. Mas isso não aconteceu, e essa foi uma das razões que incomodaram seus críticos nas forças armadas”, disse a fonte ao Guardian.
Constantin Gouvy, pesquisador de Burkina Faso no Instituto Holandês de Relações Internacionais, confirmou que a escolha de parceiros internacionais vinha sendo um dos principais pontos de discórdia entre a junta militar que governava o país, o exército e a população.
“Damiba estava se inclinando para a França, mas podemos ver o MPSR (a junta) explorando mais ativamente alternativas a partir de agora, com a Turquia ou a Rússia, por exemplo”, afirmou Gouvy.
De acordo com o Atlantic Council, existe mesmo uma tendência de aumento da influência russa na África. “A Rússia tem sido cada vez mais vista como uma opção alternativa, particularmente após o sucesso percebido do país no combate a militantes na RCA (República Centro-Africana)”.
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