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quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Taleban proíbe todas as mulheres de frequentar a universidade no Afeganistão

O Taleban, que já havia imposto uma série de restrições às mulheres afegãs no ensino superior, anunciou na terça-feira (21) que elas estão proibidas de frequentar as universidades do Afeganistão. A decisão tem efeito imediato, de acordo com informações são da rede CNN.

A medida repressiva reforça a postura radical do atual governo afegão e contraria a promessa de moderação feita à comunidade global quando o Taleban assumiu o poder, em agosto de 2021.

Em setembro do ano passado, um mês após assumir o poder, o Taleban havia determinado a segregação de gênero em universidades e faculdades privadas. Decreto do Ministério da Educação estabeleceu que as classes fossem separadas por gênero, ou pelo menos divididas por uma cortina.

Entre as determinações, a de que as estudantes só poderiam ser ensinadas por outras mulheres. Um exceção foi aberta: “homens idosos” de bom caráter poderiam preencher os cargos na ausência de educadoras disponíveis.

A repressão aumentou em outubro deste ano, quando o Taleban impôs restrições às milhares de meninas e mulheres afegãs autorizadas a prestar vestibular. Ela foram impedidas de se inscrever em diversas graduações, entre elas jornalismo, medicina, engenharia, economia e ciências sociais.

A possibilidade de as mulheres serem integralmente proibidas de frequentar a universidade estava na pauta desde o início de dezembro. À época, Bilal Sarwary, um jornalista baseado no Afeganistão, citou como fonte um professor da Universidade de Cabul próximo ao Taleban e citou uma “proibição iminente de estudantes do sexo feminino em faculdades em todo o país”.

“A possível proibição é atribuída à falta de currículo apropriado”, disse Sarwary na ocasião, acrescentando que a decisão já havia sido tomada, mas era “objeto de desacordo interno” entre as lideranças talibãs.

Acesso das mulheres à educação é cada vez mais restrito no Afeganistão (Foto: Sayed Bidel/Unicef)
Repúdio internacional

A proibição gerou reações imediatas de repúdio de nações ocidentais. Estados Unidos e Reino Unido se manifestaram através de seus representantes na ONU (Organização das Nações Unidas) e condenaram a medida, segundo a rede Radio Free Europe (RFE).

Barbara Woodward, embaixadora britânica nas Nações Unidas, afirmou que a decisão é “mais um passo do Taleban para longe de um Afeganistão autossuficiente e próspero” e “outra restrição flagrante dos direitos das mulheres e uma intensa e profunda decepção para todas as estudantes”.

Já Robert Wood, vice-embaixador dos EUA na ONU, disse que a medida compromete o projeto de inserção do Afeganistão no cenário político global. “O Taleban não pode esperar ser um membro legítimo da comunidade internacional até que respeite os direitos de todos os afegãos, especialmente os direitos humanos e a liberdade fundamental de mulheres e meninas”.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, destacou a “promessa rompida” pelos talibãs, citando a moderação projetada quando assumiram o poder. “É difícil imaginar como um país pode se desenvolver, pode lidar com todos os desafios que tem, sem a participação ativa das mulheres e sem a educação”, disse ele.

Por que isso importa?

A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há ainda um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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