O governo do Irã promete não afrouxar a lei que obriga as mulheres do país a usarem o hijab, lenço que cobre a cabeça e foi o pivô dos protestos populares que tomam as ruas do país. Segundo Mohammad Jafar Montazeri, promotor-chefe do país, as iranianas devem seguir a lei “para sua própria segurança e saúde”. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
Foi o uso incorreto do hijab que levou a chamada “polícia da moralidade” a repreender a joven Mahsa Amini em setembro. Ela foi detida, desmaiou sob custódia e foi internada em coma. Morreu três dias depois, o que levou a população a protestar contra a repressão e a brutalidade do governo.
Nos protestos, tem sido comum ver mulheres sem o véu islâmico e pedindo o fim da obrigatoriedade. Porém, Montazeri afirma que o governo não pretende ceder. “Não podemos dizer que o hijab é um assunto pessoal”, diz ele, reforçando a necessidade de seguir a lei atual, instituída em 1979 e válida para mulheres e meninas com mais de nove anos de idade.
De acordo com o promotor-chefe, as mulheres que vão às ruas sem a cabeça coberta cometem um “crime óbvio”. Ele ainda culpou os “inimigos do país”, provavelmente referindo-se às nações ocidentais, encabeçadas pelos EUA, por influenciar negativamente as iranianas quanto a essa questão.
Uma pesquisa feita na internet e publicada no dia 13 de dezembro por uma equipe iraniana ligada à organização britânica Small Media analisou o comportamento das iranianas durante os protestos. Oito em cada dez das 5.582 mulheres que responderam ao questionário disseram ter ido às ruas sem o hijab ao menos uma vez desde setembro.
Por que isso importa?
Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.
No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.
De acordo com dados divulgados pela ONG Ativistas de Direitos Humanos do Irã (HRAI, na sigla em inglês), ao menos 503 pessoas morreram nas mãos de agentes estatais até o dia 19 de dezembro, entre elas 69 crianças. A entidade diz ainda que 18.452 pessoas foram detidas pelas autoridades sob a acusação de participar dos protestos.
Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.
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