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sábado, 3 de dezembro de 2022

China tem quatro diferentes estratégias militares para subjugar e anexar Taiwan, diz Pentágono

A China vislumbra quatro diferentes estratégias militares para subjugar e assim anexar Taiwan, que Beijing considera uma província separatista. Um relatório divulgado pelo Pentágono nesta semana, o qual analisa a ameaça chinesa aos EUA, diz que o Exército de Libertação Popular (ELP) “aumentou as ações provocativas e desestabilizadoras dentro e ao redor do Estreito de Taiwan” e lista os cenários à disposição de Xi Jinping para atacar a ilha democrática. As informações são da rede Radio Free Asia

O documento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirma que Beijing vislumbra “uma série de opções para campanhas militares contra Taiwan, com vários graus de viabilidade e riscos associados”. São opções que vão desde “um bloqueio aéreo e marítimo” até “uma invasão anfíbia em grande escala para capturar e ocupar algumas de suas ilhas costeiras ou toda Taiwan”.

Os efeitos do bloqueio puderam ser parcialmente sentidos nos exercícios militares chineses no entorno da ilha que se sucederam à visita a Taiwan de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara do EUA. A China contestou a presença da autoridade, encarada como uma afronta à soberania nacional, e respondeu com uma grande exibição de força.

Segundo o Pentágono, o bloqueio impediria tanto o transporte marítimo quanto aéreo no entorno da ilha, cancelando voos e afastando embarcações. Isso cortaria as linhas de abastecimento e levaria à inevitável rendição.

Uma opção intermediária, segundo o documento, seria uma campanha coercitiva que poderia incluir ataques digitais contra a infraestrutura política, militar e econômica taiwanesa, gerando caos no país. Nesse cenário, a Inteligência chinesa poderia se infiltrar no território e realizar ataques presenciais contra os mesmos alvos. Mais uma vez, o desfecho seria a rendição.

A terceira opção, mais agressiva, seria uma campanha aérea de precisão, com jatos e mísseis que teriam na mira alvos do governo e das forças armadas, bem como a infraestrutura de telecomunicações “para degradar as defesas de Taiwan, neutralizar a liderança de Taiwan ou minar a determinação do público de resistir”.

Navios de guerra da marinha chinesa durante treinamento militar (Foto: eng.chinamil.com.cn)

A alternativa extrema é a invasão anfíbia em larga escala, que romperia as defesas costeiras de Taiwan e capturaria alvos-chave em toda a ilha. Segundo o relatório, o ELP “continua a construir e exercer capacidades que provavelmente contribuiriam para uma invasão em grande escala”.

Esta última opção, no entanto, é tida como improvável, pois sobrecarregaria as forças armadas da China e provavelmente levaria a uma reação internacional. Seria um “um risco político e militar significativo para Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês (PCC)”, diz o texto. 

O relatório da Defesa norte-americana não apresenta um cronograma para cada um dos quatro cenários. Diz apenas que a China “nunca renunciou ao uso da força militar” contra a ilha. 

Poderio militar

Beijing ostenta o segundo maior orçamento de Defesa do mundo, tendo investido US$ 293 milhões no setor em 2021, segundo o site Statista. Somente os EUA gastaram mais no ano passado, US$ 801 bilhões.

O desenvolvimento das forças armadas começou antes mesmo do governo de Xi Jinping, mas foi em 2013, quando ele assumiu o poder, que o ELP ampliou e acelerou a reformulação. Atualmente, a China tem a maior marinha do mundo, à frente da norte-americana, o maior exército permanente do mundo e um arsenal balístico e nuclear capaz de rivalizar com qualquer outro. 

O mesmo relatório do Pentágono revelou que os planos da China para ampliar seu arsenal nuclear continuam a todo vapor, com a meta de ter 1,5 mil ogivas nucleares até o ano 2035. Se o objetivo for alcançado, as forças armadas chinesas fechariam o vão que as separa dos EUA, quadruplicando seu poderio nuclear ao longo dos próximos 13 anos.

Atualmente, a Rússia tem a maior quantidade de ogivas nucleares ativas do mundo, com cerca de 4,5 mil. Já os EUA aparecem em segundo na relação, com 3,75 mil. A China, por ora, aparece bem atrás, com 350, seguida por França, 290, Reno Unido, 225, Paquistão, 165, e Índia, 156.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa na presidência da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse Jinping no recente 20º Congresso do PCC. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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