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sábado, 13 de maio de 2023

Ex-aliado aumenta o tom, ofende Putin e passa a ser visto na Rússia como uma ameaça ao regime

A relação entre Evgney Prigozhin, chefe da organização paramilitar privada Wagner Group, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, começou a azedar quando o empresário foi a público reclamar da falta de apoio a seus mercenários por parte do Kremlin na guerra da Ucrânia. Os canais diretos de comunicação entre os dois foram cortados, e o agora ex-aliado começou a usar sua movimentada conta no Telegram primeiro para atacar coadjuvantes dentro do governo. Ultimamente, porém, passou a se dirigir diretamente ao líder russo, a quem chegou a chamar de “idiota”. Por isso, é hoje visto por autoridades estatais como uma ameaça ao regime, segundo a revista Newsweek.

Na última terça-feira (9), a Rússia celebrou o Dia da Vitória, importante feriado que lembra o triunfo sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial. Prigozhin aproveitou o momento para voltar a criticar o governo por não enviar munição suficiente a seus mercenários.

Devido ao problema, ele ameaçou tirar o Wagner Group da cidade de Bakhmut, onde Rússia e Ucrânia travam atualmente os mais sangrentos combates da guerra. Foi advertido de que tal iniciativa configuraria deserção e, consequentemente, traição. Voltou atrás, e os combatentes seguem no campo de batalhas. Mas nem por isso ele abaixou o tom.

Além de acusar novamente os generais russos de “traição”, pela suposta falta de disposição que têm exibido para equipar os mercenários, Prigozhin jogou no ar uma pergunta cuja interpretação não dá muita margem a dúvida: “E se o avô for um verdadeiro idiota?”

O presidente russo Vladimir Putin, de preto, e o empresário Evgeny Prigozhin (à dir.) (Foto: WikiCommons)

De acordo com Vlad Mykhnenko, especialista na transformação pós-comunista da Europa Oriental e da ex-União Soviética pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, não há o que se discutir no que tange à interpretação da frase. “Obviamente, ‘avô’ é uma referência a Putin”, disse ele.

De quebra, o empresário acusou soldados regulares do exército da Rússia de fazerem justamente aquilo que foi advertido a evitar: deixar o campo de batalhas em Bakhmut.

“Tudo está sendo feito para que a linha de frente desmorone. Uma das unidades do Ministério da Defesa fugiu de um de nossos flancos, abandonando suas posições. Todos fugiram”, disse Prigozhin em mais um de seus habituais vídeos publicados no Telegram, segundo relato da agência Al Jazeera.

Em outra gravação, esta divulgada justamente no Dia da Vitória, ele afirmou que “um soldado não deve morrer por causa da estupidez absoluta de seus líderes”. E acrescentou: “As ordens que recebem do topo são absolutamente criminosas.”

Pretensões políticas

De acordo com Mykhnenko, o objetivo do chefe do Wagner Group na Ucrânia não é militar. “A principal atividade de Prigozhin durante este conflito sempre foi tentar capitalizar a guerra e acumular mais bens e recursos na própria Rússia, para conseguir um cargo formal no governo ou um grande papel de liderança política. Ou seja, converter seus bens militares em ativos econômicos e políticos tangíveis dentro da Rússia”, disse o especialista.

Em fevereiro, o consultor político Jason Jay Smart, que viveu e trabalhou em diversas ex-repúblicas soviéticas, também colocou Prigozhin como candidato ao trono.

“Às vezes os líderes caem não porque fizeram algo errado aos olhos de seus cidadãos, mas simplesmente porque um jovem leão deseja usurpar o velho rei leão”, disse Smart se referindo ao empresário, em artigo publicado pelo jornal Kyiv Post.

Tatiana Stanovaya, pesquisadora sênior do think tank alemão Carnegie Russia Eurasia Center, afirma que algumas autoridades russas de fato enxergam o empresário como uma ameaça ao regime de Putin e estariam “muito assustadas” com o comportamento dele. O temor é o de que, com o tempo, a opinião pública passe a concordar com as alegações feitas em suas furiosas manifestações e ele ganhe força política.

“Com esta guerra, que parece com o tempo cada vez mais imprevisível e talvez fadada ao fracasso para a Rússia, ele diz coisas que parecem certas?”, questiona a analista. “A longo prazo, ele pode se tornar mais atraente, o que significa que as pessoas começariam a pensar que talvez ele não esteja tão errado sobre o estado das coisas.”

A presidência ou a morte

Entre os especialistas, não há um consenso quanto ao mais provável destino de Prigozhin e do Wagner Group. Em artigo publicado no início de março pela rede CNN, a jornalista Candace Rondeaux declarou que o empresário “está sendo alternadamente falado como um rival em potencial do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou um alvo de assassinato”.

Quanto à organização paramilitar que Prigozhin comanda, Mykhnenko sugere que ela pode acabar sendo incorporada pelo Kremlin. Cita como indício o fato de que os generais russos Roman Gavrilov, ex-vice-comandante da Guarda Nacional, e Mikhail Mizintsev, ex-vice-ministro da Defesa, foram contratados pelo Wagner após terem sido demitidos pelo governo.

“Prigozhin deve ter pensado que essas ações fortaleceriam o poder do Wagner dentro da máquina burocrática russa. No entanto, poderia ser tanto um prelúdio ou início da ‘tomada hostil’ do Wagner pelo Kremlin”, disse o especialista da Universidade de Oxford. “Mizintsev pode ter sido implantado de propósito para assumir o controle”, acrescentou.

Quanto ao empresário, Mykhnenko concorda com a segunda alternativa levantada pela jornalista Candace Rondeaux.

“Apostaria em Prigozhin sendo encontrado morto em um ‘suicídio’ encenado pelo Estado russo, com uma pistola na mão e uma nota de suicídio ridícula”, disse ele. “Moscou também poderia fornecer à Ucrânia a geolocalização precisa de Prigozhin dentro de um alcance de foguete Himars de 70 quilômetros para acabar com ele e fornecer um ‘heróico’ impulso de recrutamento de propaganda para o ‘novo’ emasculado Wagner.”

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