Material veiculado originalmente na Rádio USP (Universidade de São Paulo)
Muito se fala sobre o Brasil taxar as grandes fortunas, repetindo experiências adotadas ao redor do mundo. O assunto entra em voga, principalmente, em momentos de crise, além do apelo político que tal ato pode exercer em uma sociedade.
A Argentina, pensando na luta contra a pandemia e suas consequências, decidiu aprovar uma cobrança sobre grandes fortunas, tributando patrimônios maiores do que 200 milhões de pesos – ou seja, R$ 13 milhões. A pergunta que fica é: por que o tema não avança no Brasil?
“Essa questão é interessante. No Brasil, os pobres não estão representados no Congresso, ao contrário da Argentina. Esse é um problema muito sério que nós temos aqui”, comenta Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor explica que a máquina política argentina tem uma pequena maioria que tende para o lado do presidente Alberto Fernández, o que possibilita a adoção de medidas que protejam a população mais pobre.
“Hoje, no Congresso brasileiro, não há um partido que tenha uma participação grande e que tenha essa tradição de defesa das populações mais vulneráveis”, complementa Feldmann.
Para ele, o partido que tinha essa tradição era o Partido dos Trabalhadores (PT), mas, para ele, hoje o PT é um partido que está isolado e que não consegue ter maioria em votações.
Apesar de Argentina e Brasil terem dificuldades financeiras, com a aprovação dessa medida, a Argentina já consegue pensar no futuro, pois os recursos utilizados não partirão dele próprio, mas da população mais rica, enquanto o Brasil, por exemplo, dificilmente conseguirá manter os auxílios existentes atualmente, pois não tem de onde retirar os recursos necessários.
Desemprego deve nortear políticas brasileiras
Feldmann explica que uma forma de tentar melhorar a perspectiva brasileira é focar em melhorar os índices de desemprego. Sem auxílio emergencial, é mandatório que se consiga emprego para as pessoas, argumentou.
A área de infraestrutura continua sendo o principal ponto de investimentos, pois ao mesmo tempo que resolve uma carência estrutural, também oferece empregos diversos.
O problema, para o professor, é que apenas 1,5% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro foi direcionado a obras de infraestrutura em 2020. Cálculos de economistas, contudo, apontam que o investimento deveria ter sido de até 5%.
Para Feldmann, uma da soluções seria atrair empresas estrangeiras, principalmente chinesas, alemãs e espanholas, para investir em infraestrutura. Atualmente, porém, não há aplicação de nenhuma política de geração de empregos no Brasil.
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