O ano de 1960 testemunhou uma revolução na África, com o nascimento de 17 novos países em todo o continente. Destas, 14 eram colônias francesas. Com a saída das potências coloniais europeias, vem um período de profundo otimismo e projeção global de figuras nascidas e forjadas na luta por um continente livre.
Ao final daquele ano, o número de países independentes na África salta de nove para 26. Também houve o massacre de Sharpeville, na África do Sul, que marca o primeiro ponto de virada da opinião pública internacional a respeito da barbárie que marcou o apartheid no país.
A previsão viera em fevereiro daquele ano de Ralph Bunche, o primeiro afroamericano a ganhar um Nobel da Paz, dez anos antes. “1960 será o ‘ano da África’, porque pelo menos quatro, talvez sete ou oito, novos Estados membros virão do continente“, afirmou Bunche, então vice-secretário assuntos políticos das Nações Unidas, e registrou o “The New York Times“.
O discurso vinha na sequência de outra fala que marcou época, dessa vez do então primeiro ministro britânico Harold Macmillan. Em 3 de fevereiro, o inglês discursa no Parlamento da África do Sul e afirma que “o vento da mudança está soprando por esse continente”.
“Gostemos ou não”, afirma Macmillan, “esse crescimento da consciência nacional é um fato político”.
E, por meio da desobediência civil, organizações nacionalistas como o ganês Convenção do Partido Popular, o Congresso Nacional Sul-Africano, e o tanzaniano União Nacional Africana do Tanganica ganharam espaço ao longo dos anos 1960. Entre as práticas, havia boicotes e greves.
Depois do discurso de Macmillan, ficou claro que pelo menos o Reino Unido já previa o desmantelamento de seu sistema colonial no continente.
Mauritânia, Nigéria, República Democrática do Congo, Congo, Senegal, Costa do Marfim, Mali, Chade, República Centro-Africana, Gabão, Madagascar, Togo, Níger, Alto Volta (hoje, Burkina Faso), Somalilândia britânica, no norte da Somália, e Dahomey (hoje, Benin) e Camarões também celebraram a independência.
Nos anos seguintes viriam Serra Leoa, em 1961, Quênia, em 1963, Zâmbia – então Rodésia do Norte – em 1964 e a porção sul, hoje Zimbábue, em 1965.
A Argélia, que conquistou liberdade após uma guerra sangrenta de oito anos com os franceses, foi libertada em 1962. As colônias portuguesas ainda permaneceriam mais 15 anos sob Lisboa.
Impacto profundo
Em 1963, é criada a OUA (Organização da Unidade Africana), com 32 países-membros e embrião da atual UA (União Africana), fundada há 18 anos.
A meta da entidade era encerrar o colonialismo no continente e promover integração das nações – inclusive de políticas econômicas, diplomáticas, de saúde e educação.
Dessa política panafricanista, na qual unem-se os povos do continente para aumentar o poder da barganha e da voz da África a partir dos anos 1960 – de quem vive ali e da diáspora, espalhada pelas Américas após séculos de escravidão – a medida mais recente foi a Agenda 2063 da UA, criada há sete anos.
O objetivo é criar “uma planta e um plano para transformar a África em uma potência do futuro”. São 15 metas, mas uma delas já não foi concluída: silenciar as armas até 2020. O plano prevê a criação de um índice de segurança para os países da região, além de operações de paz.
A agenda conjunta em prol do desenvolvimento também contempla a criação de uma união aduaneira e de livre comércio, chamada de AfCFTA. Além de permitir a livre circulação de mercadorias, o bloco também serviria como plataforma para pleitear condições mais vantajosas na arena do comércio internacional.
Também há uma diretriz que prevê o aumento nas emissões de vistos para facilitar a circulação de pessoas pelo continente. Com mens restrições, o segundo passo seria unificar também as possibilidades de trabalho nos diferentes países.
No mercado de transporte de aviação comercial, a UA planeja o aumento de voos entre as principais cidades do continente, simplificando o trânsito e permitindo ganhos de eficiência para as empresas aéreas locais. Há também uma proposta de unificação de padrões de segurança, arbitragem e concorrência para garantir a abertura dos céus africanos ao mercado internacional.
No âmbito econômico, estão previstas a criação de instituições financeiras como bancos de investimento, um fundo monetário – emprestador de última instância para países em crise de balanço de pagamentos – e um banco central, além de uma Bolsa.
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