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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Sri Lanka volta atrás e autoriza navio chinês a ancorar em seu porto

Em mais uma reviravolta do caso, o governo do Sri Lanka afirmou no último sábado (13) que autorizou a presença no porto de Hambantota do navio chinês Yuan Wang 5, mesmo frente à suposta insatisfação da Índia. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A presença da embarcação no território cingalês está prevista para esta terça (16). Já a posição contrária da Índia à presença no navio, sob a alegação de que a visita teria finalidade militar, foi refutada por Nova Déhli.

“Rejeitamos categoricamente a ‘insinuação’ e tal declaração sobre a Índia. O Sri Lanka é um país soberano e toma suas próprias decisões independentes”, disse Arindam Bagchi, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano.

O Yuan Wang 5, classificado por Beijing como um navio de “pesquisa”, está em rota para o porto, cuja construção custou US$ 1,5 bilhão e foi financiada com dinheiro chinês. O argumento de chineses e cingaleses é o de que a visita servirá apenas para o reabastecimento da embarcação.

Segundo analistas de segurança, porém, o Yuan Wang 5 é usado para rastreamento espacial, capaz de monitorar lançamentos de satélites, foguetes e mísseis balísticos intercontinentais. Os EUA dizem que ele serve ao Exército de Libertação Popular (ELP) da China.

Yuan Wang 6 no porto de Papeete, Polinésia Francesa, dezembro de 2011 (Foto: Wikimedia Commons)
Disputa por influência

China e Índia travam uma disputa por influência no Sri Lanka, país que atravessa profunda crise econômica. Nova Délhi ganhou pontos recentemente ao enviar entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões em ajuda ao país, mas a presença de Beijing continua sendo muito forte.

Hambantota é crucial nessa disputa, vez que foi construído dentro da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), iniciativa lançada pelo presidente Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura no exterior.

Como o Sri Lanka não conseguiu pagar as parcelas devidas, Beijing ativou a cláusula contratual que repassou à China o controle do porto. Daí a preocupação indiana de que as instalações sejam usadas com finalidade militar, não apenas comercial.

Nesse cenário, o temor da Índia no que tange ao navio está atrelado à capacidade de rastreamento dele. Assim, o Yuan Wang 5 poderia usar a visita para coletar informações sobre as usinas nucleares indianas de Kalpakkam e Koodankulam.

Por que isso importa?

O estremecimento das relações entre Índia e China remete a uma disputa territorial de abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real (LAC, na sigla em inglês), a fronteira de fato entre as nações.

Os vizinhos compartilham uma fronteira não delimitada oficialmente de 3,5 mil quilômetros através do Himalaia e mantêm um acordo de paz instável desde o fim da guerra sino-indiana, em novembro de 1962.

Em 15 de junho de 2020, a paz na fronteira foi quebrada após novos confrontos entre soldados indianos e chineses no vale de Galwan, na região de Ladakh, na Índia. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Desde então, milhares de soldados estão posicionados dos dois lados da fronteira, e obras com fins militares tornaram-se habituais na região. As nações reivindicam vastas áreas do território alheio no Himalaia, problema que vem desde a demarcação de áreas pelos governantes coloniais britânicos.

Beijing e Nova Délhi mantiveram 14 rodadas de negociações desde os confrontos de junho de 2020. As conversas levaram à retirada de tropas em vários pontos ao longo da ALC, mas não de todos. E não foi possível chegar a nenhum acordo sobre a fronteira. Para especialistas, qualquer deslize de um dos lados pode levar a uma guerra entre as nações.

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