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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Investigação aponta que Japão importa produtos originários da pesca ilegal chinesa

O consumidor japonês que busca frutos do mar no mercado local pode estar adquirindo produtos originários de pesca ilegal chinesa e, paralelamente, financiando os abusos de direitos humanos cometidos no setor. A denuncia foi feita por ambientalistas britânicos da da Fundação para a Justiça Ambiental (EJF, da sigla em inglês), e pela agência japonesa Kyodo News.

Foram ouvidos cerca de 70 pescadores indonésios a serviço de 19 pesqueiros chineses que operam na captura de atum nos oceanos Pacífico Ocidental, Índico e Atlântico, e oOs navios investigados estavam repletos de carga refrigerada  com destino ao Japão. Alguns deles eram operados pela subsidiária de uma das principais companhias japonesas, a Mitsubishi.

Atum sendo preparado no mercado de peixe em Tóquio (Foto: Derek Mawhinney/Wikimedia Commons)

Segundo análise de rastreamento de embarcações por satélite e depoimentos de tripulantes indonésios, a EJF concluiu que o atum e o peixe-espada foram transferidos de navios de pesca chineses para cerca de 10 reefers japoneses com destino ao porto de Shimizu, na província de Shizuoka, entre outros. Membros da tripulação testemunharam que o pescado havia sido transferido para um reefer com bandeira japonesa.

Questionado pela reportagem, um porta-voz da Mitsubishi afirmou que não tinha conhecimento sobre nenhum de seus reefers praticando pesca ilegal ou violando direitos humanos. Segundo ele, a companhia verifica regularmente essas violações e que o caso será investigado.

“Nossas transações envolvendo atum são feitas de acordo com as regras internacionais”, disse o porta-voz.

A Mitsubishi disse que, embora tenha comprado atum da empresa no passado, não o faz desde abril de 2020, acrescentando que, “se os relatórios forem verdadeiros, é muito lamentável.”

Práticas ilegais

A reportagem apontou que vários dos pesqueiros chineses pertencem a uma empresa de pesca em águas distantes com sede em Dalian, no nordeste da China, embargada por trabalho escravo pelo governo dos Estados Unidos em maio deste ano.

A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, conhecida como pesca IUU, é prejudicial tanto para o ecossistema marinho como quanto para as empresas que operam na legalidade. Porém, para as autoridades, é extremamente difícil de eliminar devido à falta de monitorização.

EUA e países da Europa tomaram medidas nos últimos anos para implementar controles de importação sobre as capturas de navios associados à pesca IUU e abusos dos direitos humanos, enquanto as regulamentações do Japão não se atualizaram.

Em dezembro de 2020, o Japão enfim promulgou uma lei exigindo que os pescadores apresentassem prova de captura, mas atualmente cobre apenas algumas espécies de vida marinha, sem o atum. Grupos ambientalistas no país estão pedindo que a lei seja expandida para cobrir todas as espécies, e que isso seja feito com celeridade.

Recentemente, a atividade de barcos pesqueiros chineses nas proximidades das ilhas Senkaku, Mar da China Oriental, aumentou o atrito entre Tóquio e Beijing. 

Assédio e maus tratos

Os pescadores indonésios também disseram à EJF que eram frequentemente vítimas de abusos físicos e verbais pela tripulação chinesa. Horas excessivas de trabalho horas e remuneração que não honrava os contratos também eram comuns.

Um deles, de 25 anos, que falou sob anonimato, contou que trabalhou por dois anos a bordo de um navio de pesca de atum chinês e relatou que ele e seus colegas muitas vezes não recebiam comida e água suficientes e nem mesmo remédios para tratar ferimentos.

“Estamos gratos que os japoneses estão comprando nosso atum, mas queremos que eles saibam que por trás do atum há uma atividade ilegal desenfreada e pescadores pobres como nós estão sendo vitimados e sofrendo”, denunciou.

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