Atingir a meta de baixar para 3% a pobreza extrema mundial até 2030 é um cenário muito pouco provável, devido aos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia. Estes choques “extraordinários” na economia global aparecem listados pelo Banco Mundial em análise publicada na quarta-feira (5).
A alta dos preços dos alimentos e da energia atrapalhou a recuperação da Covid-19 e originou o “maior revés” à pobreza global em décadas, segundo o relatório “Pobreza e Prosperidade Compartilhada 2022”, prevendo que o ritmo de redução da pobreza seja ainda mais reduzido neste ano. Entre as razões que devem contribuir para a situação estão as baixas perspectivas de crescimento global após a invasão da Ucrânia pela Rússia, uma desaceleração econômica na China e aumento da inflação.
Angola, Brasil e Moçambique são os únicos lusófonos na lista de economias onde a pobreza extrema está mais concentrada. Os países da África Subsaariana têm cerca de 35% de pessoas em pobreza. A região representa 60% de todas as pessoas do mundo em pobreza extrema.
O Banco Mundial considera crítico um maior investimento na saúde e educação para as economias em desenvolvimento.
O documento ressalta que ao continuarem as tendências atuais, 574 milhões de pessoas ainda viverão com menos de US$ 2,15 por dia em 2030. A maioria estará na África. Esse total equivale a quase 7% da população mundial.
O presidente do Banco Mundial, David Malpass, pediu que ocorram grandes mudanças nas políticas para impulsionar o crescimento e ajudar a estimular os esforços pelo fim da pobreza.
Taxas de propriedade e carbono
Para o líder da instituição, o avanço na redução da pobreza extrema cessou basicamente por estar associado ao crescimento econômico global moderado. Malpass aponta fatores como a inflação, as desvalorizações cambiais e o prolongamento de crises agravadas pelo aumento da pobreza extrema.
O Banco Mundial apela aos países a aumentar a cooperação, evitar amplos subsídios, focar no crescimento de longo prazo e adotar medidas como taxas sobre propriedade e carbono que possam “ajudar a aumentar a receita sem prejudicar aos mais pobres”.
O relatório observa que mais de 3 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 6,85 por dia, a linha média de pobreza adotada por países de renda média alta.
Depois de avanços ocorridos na redução da pobreza durante os cinco anos anteriores à pandemia, os mais pobres “claramente arcaram com os custos mais altos”.
Menos gastos
Na faixa dos 40% da população mais pobre as perdas médias de renda foram de 4% durante a Covid-19. É o dobro das perdas sofridas pelos 20% mais ricos.
O Banco Mundial destaca que os gastos do governo e o apoio emergencial ajudaram a evitar aumentos ainda maiores nas taxas de pobreza.
O relatório ressalta que a recuperação econômica foi desigual, com as economias em desenvolvimento menos favorecidas estando agora a gastar e a adquirir menos.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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