O exército chinês enviou diariamente entre quatro e seis navios de guerra para águas próximas a Taiwan durante todo o mês de agosto, disse nesta terça-feira (11) o ministro da Defesa do território semiautônomo. As informações são do jornal South China Morning Post.
Segundo Chiu Kuo-cheng, tal comportamento de Beijing amplia as preocupações de segurança, sendo um passo adiante em relação ao envio de aviões militares pelo Exército de Libertação Popular (ELP), que já vinham cruzando os céus do Estreito de Taiwan e aumentando a temperatura das já complicadas relações entre Beijing e a ilha.
Ele definiu as ações como provocativas e disse que os militares da ilha “tentaram ao máximo” evitar a escalada de tensão. “Mas, mesmo em tempos de paz, o ELP despachou mais de 20 aviões de guerra para voar por Taiwan e cruzar a linha mediana. A cada dia, também enviou de quatro a seis navios de guerra, ou mais, nas águas ao nosso redor”, disse o chefe da pasta de Defesa.
Frota naval da China na base de Hickam, Havaí, EUA, em setembro de 2013 (Foto: Picryl/U.S. Navy)
Chiu acrescentou que os chineses usaram como desculpa para a massiva presença militar a justificativa de ser um treinamento de prontidão para o combate. “As forças comunistas chinesas intensificaram suas atividades desde agosto quase sem parar em áreas ao redor de Taiwan”, disse ele antes de uma reunião legislativa nesta terça.
A fala de Chiu vem na esteira da repercussão de Beijing sobre uma declaração da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen. Após discurso da líder em celebração do Dia Nacional, comemorado na segunda (10), ela foi acusada pela China de “exagerar as ameaças do ELP à ilha”. Isso porque Tsai taxou de “lamentável” o conjunto de intimidações do exército chinês, além de ter pedido “um acordo mutuamente agradável”.
Na visão do Escritório de Assuntos de Taiwan em Beijing, os comentários da presidente de Taiwan “distorceram a substância das relações através do Estreito”, bem como “sabotaram os laços entre a ilha e o continente e colocaram em risco a paz e a estabilidade na região”.
Em agosto, após a visita a Taiwan de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, irritada com a violação da política de “Uma só China”, Beijing gerou uma resposta belicista através de exercícios militares sem precedentes no entorno da ilha que Beijing reivindica como parte do seu território.
Chiu admitiu que a situação atual no Estreito de Taiwan é a mais difícil que ele já viu em sua trajetória militar. “Não esperamos que as chances de conflito aumentem. Nem queremos que uma guerra através do Estreito aconteça”, disse ele.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.
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