Em um grande discurso durante o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC) no domingo (16), diante dos principais líderes políticos do país, o presidente Xi Jinping abordou de forma inquietante uma das questões mais espinhosas da nação. Segundo ele, embora a intenção no assunto Taiwan seja reintegrar o território por meio da paz, a China não fará concessões quanto ao uso de força. As informações são da revista Newsweek.
“Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse Xi aos membros de alto escalão do partido. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.
O líder também abordou a “interferência de forças externas”, dizendo que a questão com o território semiautônomo é “assunto do próprio povo chinês”, e, sendo assim, a decisão caberia tão somente aos chineses.
Em agosto, após a visita a Taiwan de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, irritada com a violação da política de “Uma só China”, Beijing gerou uma resposta belicista através de exercícios militares sem precedentes no entorno da ilha que reivindica como parte do seu território.
Em resposta à declaração de Xi, o Conselho de Assuntos do Interior do Gabinete de Taiwan disse em comunicado que os 23 milhões de habitantes têm o direito de decidir sobre o futuro da ilha e que as demandas unilaterais de Beijing não seriam aceitas.
“Pedimos firmemente às autoridades comunistas chinesas que abandonem a imposição de uma estrutura política e o uso de força militar e coerção”, disse o conselho.
Terceiro mandato
O crucial congresso do PCC, que se estenderá por uma semana e deve garantir ao presidente Xi Jinping mais cinco anos no poder, em um histórico e inédito terceiro mandato, representa, na visão de analistas, o continuísmo e não alimenta expectativas de mudanças na política de Beijing em questões turbulentas como a de Taiwan.
Em comunicado feito no domingo (16), a ONG Anistia Internacional alertou que ampliar o tempo de poder de Xi irá representar um “desastre para os direitos humanos“.
“A confirmação do terceiro mandato de Xi Jinping será um momento sinistro não apenas para os milhões de cidadãos chineses que sofreram graves violações de direitos humanos sob seu governo, mas também para as pessoas em todo o mundo que sentem o impacto da repressão do governo chinês”, disse a vice-diretora regional do grupo, Hana Young.
Segundo ela, os impactos vão muito além do território chinês. “O braço da repressão estatal chinesa se estende cada vez mais além das fronteiras da China”.
Reservistas em Taiwan
Em meio a um cenário turbulento com a China, tido como o pior dos últimos 40 anos, Taiwan reforça a capacitação de reservistas e treina a população para responder a crises.
O fato de o Ministério da Defesa Nacional não exigir que as mulheres reservistas participem da mobilização educacional para as reservas militares “viola o princípio da igualdade de gênero”, além de ser um desperdício de recursos, disse um relatório divulgado pelo Centro de Orçamento do Legislativo Yuan.
O relatório criticou a decisão de ignorar as reservistas femininas, dizendo que os registros de desempenho mostram que as mulheres ativas das forças armadas têm um desempenho tão bom quanto seus colegas homens e que mais mulheres se juntaram às forças armadas anualmente nos últimos anos.
Não há oficiais do exército e suboficiais suficientes nas forças de reserva, então os militares estenderam o período durante o qual podem ser convocados de oito anos para 12 anos após serem dispensados do serviço militar.
Voluntárias do sexo feminino, assim como seus colegas do sexo masculino, devem, de acordo com a lei, ser listadas como reservistas após serem dispensadas do exército, apontou o relatório.
No entanto, segundo o jornal Taipei Times, a política atual estipula que as oficiais militares e suboficiais do sexo feminino podem optar por não ser listadas como reservistas após serem dispensadas.
No final do ano passado, apenas um número limitado de oficiais do sexo feminino se ofereceu para ser listado: 487 oficiais do exército e 2.608 suboficiais entre 8.915 militares aposentadas do sexo feminino, segundo o relatório.
Taiwan está em meio a uma transformação gradual de uma força militar alistada para uma força profissional dominada por voluntários, mudança que tem sido problemática. Alguns reservistas reclamam de perder tempo com exercícios classificados como “inúteis” e palestras durante o retreinamento.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.
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