O governo da República Democrática do Congo (RDC) anunciou no sábado (30) a expulsão do embaixador de Ruanda, Vincent Karega. Kinshasa acusa o país vizinho de dar suporte ao grupo rebelde armado M23 (Movimento 23 de Março), que voltou à ativa neste ano. As informações são da agência Al Jazeera.
Recentemente, os rebeldes assumiram o controle das cidades de Kiwanja e Rutshuru, na província de Kivu do Norte. Então, o conselho de segurança se reuniu, sob a liderança do presidente Felix Tshisekedi, e optou pela expulsão do diplomata ruandês.
Em meio às acusações de que Ruanda apoia os rebeldes, a RDC chegou a afirmar em junho que dois soldados ruandeses foram detidos do lado congolês da fronteira dando apoio ao grupo armado.
“Ruanda mudou o uniforme de seus soldados para esconder sua presença em território congolês ao lado dos terroristas do M23”, afirmou à época o general Sylvain Ekenge, porta-voz do exército congolês. De acordo com ele, o governo vizinho enviou 500 soldados a Kivu do Norte “vestidos com uniformes em verde e preto”.
Agora, essas denúncias se repetem, e o porta-voz do governo, Patrick Muyay, diz que tem sido observada “uma chegada massiva de elementos do exército ruandês para apoiar os terroristas do M23” na luta contra as tropas da RDC. “Esta aventura criminosa e terrorista” forçou milhares de pessoas a fugir de suas casas, segundo ele.
As relações entre os dois países são ruins desde que a RDC recebeu, em sua porção leste, muitos hutus ruandeses acusados de participar do genocídio dos tutsis em 1994.
Por que isso importa?
O M23 era inicialmente uma milícia formada por tutsis da RD Congo e então apoiada pelos governos de Ruanda e Uganda. Em 23 de março de 2009, a milícia assinou um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional.
Entretanto, em 2012, os rebeldes se ergueram novamente contra o governo, acusado de não cumprir sua parte no acordo assinado três anos antes. Nasceu, assim, o M23, em referência à data em que foi firmado o controverso pacto.
A tensão entre a milícia e o exército chegou ao ápice em novembro daquele ano, quando o M23 assumiu o comando da cidade de Goma, no leste congolês. Porém, o grupo aceitou um novo acordo de paz, estabelecendo-se um cessar-fogo.
Neste ano, o M23 reergueu suas armas, a ponto de o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) afirmar que a milícia é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.
O M23 é suspeito, inclusive, de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco, a missão de paz da ONU na RD Congo, no dia 28 de março. A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda.
“É imperativo que este Conselho dê todo o seu peso aos esforços regionais em andamento para neutralizar a situação e acabar com a insurgência do M23, de uma vez por todas”, disse Martha Pobee, secretária-geral adjunta para assuntos políticos e operações de paz da ONU na África.
De acordo com Pobee, os civis estão pagando um alto preço pela violência, com relatos de 75 mil pessoas deslocadas em combates no final de maio em Kivu do Norte, sendo que mais de 11 mil cruzaram a fronteira para Uganda.
A ONU e os principais parceiros regionais e internacionais pedem unanimemente que o M23 deponha suas armas e se junte ao processo de desarmamento e desmobilização de combatentes.
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