Com o encerramento do Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC) no fim de semana, que concedeu a Xi Jinping um terceiro mandato sem precedentes como líder da China e instalou uma nova geração de apoiadores confiáveis do mandatário no Politburo, o continuísmo do regime não é visto com otimismo por especialistas.
De questões que vão da relação com Washington aos direitos humanos, passando pela repressão da minoria uigur, reportagem da rede Radio Free Asia trouxe a opinião de alguns analistas sobre as expectativas pelos próximos cinco anos dentro da nação mais populosa do planeta.
Para Oriana Skylar Mastro, especialista em política militar e de segurança da China, os próximos cinco anos serão mais difíceis para as relações EUA-China e para outras nações receosas quanto à segurança na região. Isso porque Beijing trilha um caminho relativamente consistente, com reformulação nas forças armadas. E, possuindo maior capacidade bélica, seguirá buscando resolver questões territoriais, como Taiwan, a fim de reforçar sua posição na Ásia para se firmar como uma superpotência.
Outro especialista sustenta que há um certo nível de militarismo sendo introjetado por Xi Jinping na sociedade. Kalpit A. Mankikar, pesquisador da China no think tank da Observer Research Foundation, destaca que o presidente fala repetidamente sobre “uma nação rica, um exército forte”.
“É preciso estar muito vigilante, porque olhe para isso: é o armamento da história, o armamento da narrativa histórica que a Rússia está usando para justificar sua guerra na Ucrânia. E quando a China diz que não é expansionista, está implícito nesse argumento que está apenas tentando retomar o que lhe pertence”, diz Mankikar.
Para Denny Roy, membro sênior do centro de estudos East-West Center no Havaí, as políticas chinesas que acenderam o alerta e ampliaram acordos de cooperação de segurança no Indo-Pacífico entre os EUA e aliados não serviram para abalar a “arrogância chinesa” e reconhecer que ela prejudicou a reputação de Beijing mundo afora.
“Em vez disso, Beijing parece preparada para continuar a se opor a aspectos importantes do direito internacional, resistir à ordem liberal patrocinada pelos EUA e exaltar o fascismo ao estilo da República Popular da China como superior à democracia”, disse ele.
Direitos humanos
William Nee, coordenador de Pesquisa e Advocacia da China Human Rights Defenders, lembrou que a China atravessa uma crise de direitos humanos, com ativistas sendo sistematicamente vigiados pelo Estado e frequentemente torturados no cárcere, como nos casos de perseguição étnica na província de Xinjiang.
“Há crimes contra a humanidade em andamento na região uigur, com milhões de pessoas sendo submetidas a detenção arbitrária, trabalho forçado ou vigilância intrusiva. Os direitos culturais dos tibetanos não são respeitados”, observou.
Nee também falou sobre as barreiras sanitárias da rígida política de “Zero Covid” de Xi Jinping, que causaram enorme impacto na economia chinesa e no bem-estar social de grupos desfavorecidos, como trabalhadores migrantes e idosos.
Sean Roberts, professor associado de assuntos internacionais e antropologia da Universidade George Washington, avalia que será difícil que a vida dos uigures mude com a permanência de Xi no poder.
“Está claro que a atual política na região uigur, que tem sido tão devastadora para os uigures, é algo que Xi Jinping estava muito envolvido na formulação. E nesse contexto, é difícil ver que seu governo continuado provavelmente será positivo para os uigures”, diz ele.
De acordo com Roberts, a solução da questão passaria por “um grande acerto de contas e um mea culpa ao povo uigur sobre o que aconteceu”, algo improvável no terceiro mandato de Xi Jinping. E acrescenta: “Está bem documentado que ele fez parte da promoção das políticas e as defendeu continuamente em seus discursos”.
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