Após um ano e dois meses de repressão de gênero como uma de suas mais autoritárias marcas, o Taleban permitiu na semana passada que milhares de meninas e mulheres afegãs prestassem vestibular nas universidades do país. Mas a flexibilização da organização islâmica foi como um passo para frente e outro para trás: elas foram proibidas de se inscrever em diversas graduações, entre elas jornalismo, medicina, engenharia, economia e ciências sociais. As informações são da rede Gandhara.
A medida é o mais recente episódio a expor como o governo talibã, no poder desde agosto de 2021, tem sido particularmente duro com as mulheres. Em março, as escolas do Afeganistão foram fechadas para a entrada de meninas a partir do que, no Brasil, equivale à 6ª série do ensino fundamental.
Prestaram os exames de admissão algumas das meninas e mulheres que concluíram a escola pouco antes da tomada de Cabul pelos insurgentes extremistas. Outro grupo de vestibulandas estava no último ano quando o Taleban proibiu o ensino médio para elas.
Taleban restringe o ensino às afegãs desde o ensino fundamental (Foto: Sayed Bidel/Unicef)
Aos 20 anos, Fátima, uma jovem de 20 anos residente da província de Parwan, falou sobre o sonho de ser jornalista, porém, o curso não era uma opção para as mulheres no vestibular. Frustrada, ela acabou abandonando tanto os planos de ser uma repórter quanto o de fazer um curso superior.
“Fiquei com o coração partido e desiludido, então fui embora”, disse ela, que não teve o nome completo divulgado para proteger sua identidade.
A ONG Human Rights Watch (HRW) observou que eliminar alguns cursos da lista apenas para estudantes do sexo feminino é “profundamente preocupante”, segundo repercutiu a rede Voice of America (VOA News).
“É profundamente preocupante ouvir relatos de que o Taleban está agora limitando as matérias que meninas e mulheres jovens podem estudar no nível universitário e está banindo meninas e mulheres jovens da maioria das matérias”, disse Heather Barr, co-diretora interina da Divisão de Direitos da Mulher da HRW.
Segundo Abdul Qadir Khamush, chefe da divisão de exames do Ministério do Ensino Superior do Taleban, disse que 150 mil estudantes prestaram vestibular entre 13 e 15 de outubro, sendo 35% dos postulantes a uma vaga nas universidades mulheres. No ano passado, antes de agosto, cerca de 180 mil estudantes fizeram os exames no ano passado, sendo aproximadamente 30% do sexo feminino.
Enquanto as mulheres não têm liberdade para decidir o querem estudar e onde terão as aulas, os homens são livres para se inscrever em qualquer curso ou universidade. Em março, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que tal restrição “não apenas viola os direitos iguais de mulheres e meninas à educação, mas também põe em risco o futuro do país em vista das enormes contribuições das mulheres e meninas afegãs”.
Em setembro do ano passado, o Taleban determinou a segregação de gênero em universidades e faculdades privadas do país. O Ministério da Educação talibã emitiu decreto estabelecendo que as classes deveriam ser separadas por gênero – ou pelo menos divididas por uma cortina. Entre as determinações, a de que as estudantes só poderiam ser ensinadas por outras mulheres. Um exceção foi aberta: “homens idosos” de bom caráter poderiam preencher os cargos na ausência de educadoras disponíveis.
Por que isso importa?
A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.
Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”.
Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.
Há também um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).
A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.
As universidades públicas do Afeganistão reabriram em fevereiro deste ano pela primeira vez desde que o Taleban entrou em Cabul e retomou o poder, 20 anos depois de serem removidos pelas tropas americanas.
Em setembro de 2021, o Taleban determinou a segregação de gênero em universidades e faculdades privadas do país. O Ministério da Educação talibã emitiu decreto estabelecendo que as classes deveriam ser separadas por gênero – ou pelo menos divididas por uma cortina. Entre as determinações, a de que as estudantes só poderiam ser ensinadas por outras mulheres. Um exceção foi aberta: “homens idosos” de bom caráter poderiam preencher os cargos na ausência de educadoras disponíveis.
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