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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Após fala de Elon Musk, Tesla é alvo de boicote das forças armadas de Taiwan

Transformar Taiwan em uma “zona administrativa especial” sob a gestão de Beijing, em um “acordo mais brando que o de Hong Kong“. A sugestão do empresário Elon Musk, o homem mais rico do mundo, feita em entrevista ao jornal britânico Financial Times, foi recebida com indignação na ilha autogovernada, cujo governo prometeu boicotar a Tesla, empresa automobilística do norte-americano. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

O ministro da Defesa Chiu Kuo-cheng rebateu as declarações de Musk e disse que, a partir de agora, as forças armadas taiwanesas não mais comprarão veículos da Tesla. Atualmente, três deles, todos Modelo 3, são usados em funções administrativas pelos militares da ilha.

Chao Tien-lin, legislador do Partido Democrático Progressista, pediu um boicote ainda mais amplo aos produtos da empresa, sem dar maiores detalhes da ideia. Em agosto deste ano, a Tesla vendeu 1.774 em Taiwan, aumento de mais de 300% em relação ao ano anterior.

Embora menor, o crescimento das vendas da Tesla também foi registrado na China, com 83 mil unidades vendidas em setembro e um aumento de 8% em relação ao mês anterior. Por lá, a fala do empresário foi bem recebida, e o embaixador chinês nos EUA Qin Gang classificou a posição de Musk como “a melhor abordagem para realizar a reunificação nacional”.

Elon Musk durante coletiva de imprensa em 2018: ao lado da China (Foto: Daniel Oberhaus/WikiCommons)

Apesar da posição pró-Beijing sobre a questão taiwanesa, Musk tem um histórico recente de conflito com o governo chinês, que em dezembro de 2021 criticou a atuação da Starlink, divisão da empresa SpaceX do magnata.

Nos meses de julho e outubro do ano passado, os satélites de Elon Musk se aproximaram duas vezes da estação espacial chinesa Tiangong, uma movimentação que obrigou Beijing a realizar manobras de evasão para evitar uma colisão.

À época, a delegação chinesa na ONU (Organização das Nações Unidas) emitiu uma nota diplomática ao secretário-geral da entidade, António Guterres, relatando a circunstância e exigindo “responsabilidade internacional pelas atividades nacionais no espaço exterior”, citando o Tratado do Espaço Exterior.

Musk trabalha atualmente para colocar em funcionamento na China a rede de internet fornecida pela Starlink, uma ideia que não agrada Beijing.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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