A agressão a um manifestante de Hong Kong ocorrida em frente ao consulado da China em Manchester, na Inglaterra, no último domingo (16), contou com a participação de um veterano diplomata chinês. A denúncia foi feita pela parlamentar britânica Alicia Kearns, segundo a rede BBC.
“O que vimos foi o cônsul-geral chinês destruindo cartazes e um protesto pacífico”, disse Kerns a colegas da Câmara dos Comuns, referindo-se a Zheng Xiyuan.
Como o embaixador chinês está fora do país, o governo britânico convocou o encarregado de negócios chinês Yang Xiaoguang para prestar esclarecimento. Ele foi advertido de que diplomatas e funcionários devem respeitar as leis do Reino Unido.
“Não podemos permitir que o PCC (Partido Comunista Chinês) importe o espancamento de manifestantes, o silenciamento da liberdade de expressão e o fracasso em permitir protestos repetidos em solo britânico. Esta é uma escalada assustadora”, afirmou a parlamentar.
Beijing e Londres apresentam versões conflitantes do ocorrido. De acordo com a polícia de Manchester, entre 30 e 40 manifestantes estavam reunidos em frente ao consulado, protestando contra a repressão chinesa em Hong Kong e pedindo por democracia no território.
“Pouco antes das 16h, um pequeno grupo de homens saiu do prédio e um homem foi arrastado para o terreno do consulado e agredido. Devido aos nossos temores pela segurança do homem, os policiais intervieram e removeram a vítima do terreno do consulado”, disse o subchefe de polícia Rob Potts em comunicado.
Kerns repete o discurso de que manifestantes foram “arrastados para o território do consulado para serem espancados por funcionários que foram reconhecidos como membros do PCC”.
Já Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou que os manifestantes “entraram ilegalmente” no consulado, que funcionários chineses ficaram feridos e que qualquer missão diplomática adotaria as “medidas necessárias” para proteger suas instalações.
O consulado classificou o ato como “deplorável” e definiu os manifestantes como “um pequeno grupo de defensores da independência de Hong Kong”, dizendo que nenhuma missão diplomática chinesa toleraria pessoas exibindo imagens que insultassem o presidente Xi Xinping.
Por que isso importa?
O incidente está diretamente ligado à repressão em Hong Kong, que passou do domínio britânico para o chinês em 1997 e hoje opera sob um sistema diferente do restante da China. Apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas no território, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.
A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.
No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.
O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.
Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território
O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.
Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada”.
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