O Ministério do Interior da Alemanha anunciou na terça-feira (18) a demissão de Arne Schoenbohm, que até então chefiava o Departamento Federal de Segurança da Informação. A proximidade com a Rússia levou à decisão, de acordo com o jornal britânico Guardian.
Nancy Faeser, porta-voz do Ministério, afirmou, referindo-se a Schoenbohm, que “a confiança pública necessária na neutralidade e imparcialidade de sua liderança como presidente da agência alemã de segurança cibernética mais importante foi prejudicada”.
Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, recentemente surgiu a denúncia de que uma empresa participante foi fundada por um agente russo, situação que teria sido ignorada pelo chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação.
A revelação foi feita pelo jornalista Jan Bohmermann, que apresenta um programa satírico focado em política na televisão alemã. A empresa citada no caso é a Protelion, anteriormente conhecida como Infotecs, subsidiária de uma companhia russa fundada por um ex-funcionário da KGB homenageado pelo presidente russo Vladimir Putin.
“A empresa russa Infotecs, que quer proteger nossa infraestrutura crítica de ataques cibernéticos russos, trabalha com serviços de inteligência russos”, disse Bohmermann. “Os agentes russos usam a Infotecs, que sob o nome Protelion GmbH vende software de segurança para empresas alemãs”.
Após as revelações, a Protelion foi expulsa do Conselho de Segurança Cibernética da Alemanha, embora as alegadas relações com Moscou tenham sido classificadas como “absurdas” e descartadas. Entretanto, Schoenbohm não foi tratado com a mesma leniência, tendo questionada sua capacidade de julgamento devido à proximidade com uma companhia russa.
Por que isso importa?
Casos de espionagem, ataques cibernéticos e até ações de sabotagem têm se repetido na Alemanha, invariavelmente atribuídos a agentes russos. Atualmente, o maior temor de Berlim é o de que sua infraestrutura crítica seja alvo de Moscou devido ao apoio do governo alemão à Ucrânia na guerra.
Em junho de 2021, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.
A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang disse que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, afirmou.
Nesse cenário, casos suspeitos têm se repetido no país. No início de outubro, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.
No início de setembro, Berlim anunciou que dois funcionários do Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia. Os nomes não foram revelados, apenas que ambos eram responsáveis por questões energéticas sensíveis e teriam ajudado a alimentar um debate pró-Moscou sobre o tema, espalhando críticas ao chanceler Olaf Sholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.
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