Uma explosão atingiu um ônibus ocupado por civis e matou 11 pessoas perto da cidade de Mopti, no Mali, na quinta-feira (13). Também foram registrados outros 53 feridos no atentado, de acordo com informações divulgadas por um hospital local e reproduzidas pelo site The Defense Post.
“Acabamos de transferir nove corpos para a clínica. E ainda não acabou”, disse Moussa Housseyni, da Associação Juvenil Bandiagara, acrescentando que todas as vítimas eram civis.
A bomba que atingiu o ônibus estava posicionada em uma estrada que liga Bandiagara a Goundaka, em uma região de forte presença de grupos jihadistas. Entretanto, nenhuma facção local assumiu a autoria do atentado.
Não se sabe, também, que tipo de explosivo atingiu o ônibus. Minas terrestres e IEDs (artefatos explosivos improvisados, da sigla em inglês) estão entre as armas preferidas dos extremistas, que podem explodi-las remotamente ou por impacto.
A Minusma, missão de paz da ONU no Mali, registrou 72 mortes causadas por minas e IED’s neste ano até o mês de agosto. Em 20221 foram registadas 103 mortes e 297 pessoas feridas dessa forma no país africano.
Por que isso importa?
A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.
A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.
Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.
Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.
Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao EI, o que levou a uma explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.
Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.
A situação torna-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto deste ano colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.
Quem assumiu o vácuo dos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.
Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.
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