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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

‘Dever’, justifica diplomata chinês acusado de agredir manifestante na Inglaterra

Zheng Xiyuan, um veterano diplomata chinês flagrado agredindo um manifestante de Hong Kong em frente ao consulado da China em Manchester, na Inglaterra, no último domingo (16), justificou sua atitude dizendo que era seu “dever” proteger a dignidade chinesa. As informações são da rede CNN.

“Qualquer diplomata teria feito o mesmo”, alegou o cônsul-geral na quarta-feira (19) ao ser questionado sobre o vídeo que mostra um grupo de homens agredindo um dissidente honconguês durante protesto contra a repressão chinesa e pró-democracia no território semiautônomo do lado de fora do consulado. As imagens também mostram a polícia local entrando no consulado para coibir a violência.

A vítima, identificada como Bob, integra um grupo pró-democracia chamado Força de Defesa Indígena de Hong Kong. Antes da agressão, ele estava à frente de uma manifestação organizada em frente ao prédio, em um ato que manifestava contrariedade ao 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), iniciado no mesmo dia em Beijing.

Zheng é o sujeito grisalho que aparece de boina e máscara na imagem (Foto: Twitter/Reprodução)

Zheng justificou suas ações e defendeu a resposta dada pela sua equipe, já que o grupo de ativistas inflamou a atmosfera ao erguer cartazes “rudes”  em frente ao portão de entrada, entre eles um com a mensagem “Deus, destrua o Partido Comunista Chinês”.

“Eu não venci ninguém. Eu não deixei meu povo bater em ninguém. O fato é que os chamados manifestantes espancaram meu povo”, argumentou o diplomata, que admitiu ter puxado os cabelos de Bob.

Zheng enviou uma carta à polícia de Manchester nesta quinta-feira (20), na qual sustenta que o consulado “respeitou o direito de protestar” e que o terreno que abriga o prédio havia sido “invadido” por manifestantes.

Já o Ministério das Relações Exteriores da China, que saiu rapidamente em defesa do diplomata, teve um tom menos brando ao descrever os ativistas como “assediadores” que entraram ilegalmente no consulado, “colocando em risco a segurança das instalações diplomáticas chinesas”.

Na terça-feira (18), o secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha convocou o segundo diplomata mais importante da China no Reino Unido, Yang Xiaoguang, para buscar explicações sobre o ocorrido.

O incidente é o mais recente episódio a alimentar a piora nas relações entre o Reino Unido e Beijing, que incluem apelos crescentes denúncias britânicas relacionadas a direitos humanos e questões intrínsecas à segurança nacional, como é o caso da vertiginosa desconfiança na construção de redes 5G, que resultou na Huawei sendo banida da infraestrutura de lá.

Por que isso importa?

O incidente está diretamente ligado à repressão em Hong Kong, que passou do domínio britânico para o chinês em 1997 e hoje opera sob um sistema diferente do restante da China. Apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas no território, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.

A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.

No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.

O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território

O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.

Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada”.

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