Um tribunal militar em Mianmar condenou na quarta-feira (5) um documentarista japonês a dez anos de prisão depois de ele ter filmado um protesto antigoverno em julho. As informações são da agência Associated Press (AP).
Toru Kubota foi acusado de incitar a dissidência contra a junta militar que centraliza o poder birmanês após um golpe de Estado no ano passado. Ele recebeu pena de três anos por isso, além de mais sete por violar as leis de telecomunicações, informou a embaixada japonesa no país.
Porém, ainda não ficou claro quanto tempo o jornalista deverá ficar em cárcere, já que uma declaração enviada à imprensa pelo escritório de informações do exército explicou que Kubota, de 26 anos, ainda tem pela frente um julgamento em que responderá por ter violado a lei de imigração.
Os militares birmaneses acusam Kubota de entrar no país com um visto turístico para realizar atividades jornalísticas e, além disso, de engrossar o coro dos manifestantes nos protestos. O tribunal também alega que o documentarista disseminou informações falsas sobre os rohingyas, uma minoria étnica muçulmana proveniente do oeste do país asiático e que tem um milhão de representantes hoje vivendo em precários campos de refugiados em Bangladesh.
Kubota está sob custódia desde o dia 30 de julho, quando foi pego por policiais à paisana em Yangon, a maior cidade do país. No momento da prisão, ele registrava em fotos e vídeos um pequeno protesto contra o golpe orquestrado no dia 1º de fevereiro de 2021, que derrubou a presidente democraticamente eleita Aung San Suu Kyi.
O japonês é o quinto estrangeiro profissional de mídia preso em Mianmar desde fevereiro de 2021. Antes dele foram levados sob custódia os cidadãos americanos Nathan Maung e Danny Fenster, que trabalhavam para publicações locais, e os freelancers Robert Bociaga, da Polônia, e Yuki Kitazumi, conterrâneo de Kubota, que acabaram sendo deportados antes de cumprir totalmente suas penas.
Por que isso importa?
Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, que sucedeu as eleições presidenciais de novembro de 2020.
Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.
O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Cerca de 12 mil pessoas já foram presas, invariavelmente sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.
No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram nas redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, região de Sagaing.
A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.
Em meio à violenta repressão por parte do exército, alguns manifestantes fugiram para o exterior ou se juntaram a grupos armados em partes remotas do país. Conhecidos como Forças de Defesa do Povo, esses grupos estão amplamente alinhados com o governo civil deposto.
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