A violência não dá trégua na Somália. O Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que nos últimos meses intensificou seus ataques contra civis e forças do governo, detonou duas bombas na região central do país africano na quarta-feira (19). No total, 21 pessoas morreram, de acordo com informações do site local Garowe.
Uma das explosões ocorreu em uma ponte que leva à cidade de Jalalaqsi, onde atualmente existe uma base de operações do exército do Djibuti. Um carro-bomba foi usado pelos terroristas, cujo objetivo era destruir a principal rota usada pelas forças de segurança para transportar tropas e suprimentos.
Embora os soldados tenham identificado a ameaça imediatamente e tentado contê-la, não conseguiram evitar a explosão. Foram confirmadas 15 mortes, entre elas a do prefeito da cidade, Adan Mohamed Isse, e do comissário distrital, Mohamed Nur Agajof Dabaashe. Um major do exército somali também morreu, além de soldados e civis.
O segundo ataque também ocorreu em uma ponte, esta ligando a cidade de Buloburde, na região de Hiran, ao resto do país. Uma moto foi usada pelos insurgentes para conduzir o explosivo, sendo que o impacto da detonação matou quatro civis e dois militares. Mais uma vez, o objetivo era destruir a ponte, a mais importante ligação entre as regiões sul e central somalis.
Os ataques ocorreram menos de dez dias após o governo anunciar que cerca de 90 extremistas foram mortos em uma grande operação de contraterrorismo conduzida pelas forças armadas somalis e seus parceiros estrangeiros, inclusive as forças armadas dos EUA.
Em maio, o presidente norte-americano Joe Biden decidiu reenviar até 500 soldados à Somália para lutar contra o Al-Shabaab. A medida reposicionou parcialmente tropas que deixaram o país no mandato de Donald Trump. Naquela ocasião, eram cerca de 700 militares dos EUA dando apoio aos somalis.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação
“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.
O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.
O presidente Hassan Sheikh Mohamud deixa claro que a diplomacia de fato não está nos planos, tendo iniciado uma grande ofensiva contra os insurgentes em setembro. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.
Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.
A ofensiva militar teve início após um ataque realizado pelos extremistas que matou 21 pessoas no Hotel Hayat, na capital Mogadíscio, em 19 de agosto. O hotel atacado era um popular ponto de encontro de autoridades do governo, sendo que dezenas de pessoas estavam no local na hora do evento. Foi o maior ataque do Al-Shabaab no país desde que Mohamud assumiu o poder em junho deste ano.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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