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sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Dois ataques a bomba deixam 21 pessoas mortas na região central da Somália

A violência não dá trégua na Somália. O Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que nos últimos meses intensificou seus ataques contra civis e forças do governo, detonou duas bombas na região central do país africano na quarta-feira (19). No total, 21 pessoas morreram, de acordo com informações do site local Garowe.

Uma das explosões ocorreu em uma ponte que leva à cidade de Jalalaqsi, onde atualmente existe uma base de operações do exército do Djibuti. Um carro-bomba foi usado pelos terroristas, cujo objetivo era destruir a principal rota usada pelas forças de segurança para transportar tropas e suprimentos.

Embora os soldados tenham identificado a ameaça imediatamente e tentado contê-la, não conseguiram evitar a explosão. Foram confirmadas 15 mortes, entre elas a do prefeito da cidade, Adan Mohamed Isse, e do comissário distrital, Mohamed Nur Agajof Dabaashe. Um major do exército somali também morreu, além de soldados e civis.

O segundo ataque também ocorreu em uma ponte, esta ligando a cidade de Buloburde, na região de Hiran, ao resto do país. Uma moto foi usada pelos insurgentes para conduzir o explosivo, sendo que o impacto da detonação matou quatro civis e dois militares. Mais uma vez, o objetivo era destruir a ponte, a mais importante ligação entre as regiões sul e central somalis.

Os ataques ocorreram menos de dez dias após o governo anunciar que cerca de 90 extremistas foram mortos em uma grande operação de contraterrorismo conduzida pelas forças armadas somalis e seus parceiros estrangeiros, inclusive as forças armadas dos EUA.

Em maio, o presidente norte-americano Joe Biden decidiu reenviar até 500 soldados à Somália para lutar contra o Al-Shabaab. A medida reposicionou parcialmente tropas que deixaram o país no mandato de Donald Trump. Naquela ocasião, eram cerca de 700 militares dos EUA dando apoio aos somalis. 

Soldados somalis em treinamento de combate ao terrorismo com tropas dos EUA (Foto: Creative Commons)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

O presidente Hassan Sheikh Mohamud deixa claro que a diplomacia de fato não está nos planos, tendo iniciado uma grande ofensiva contra os insurgentes em setembro. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

A ofensiva militar teve início após um ataque realizado pelos extremistas que matou 21 pessoas no Hotel Hayat, na capital Mogadíscio, em 19 de agosto. O hotel atacado era um popular ponto de encontro de autoridades do governo, sendo que dezenas de pessoas estavam no local na hora do evento. Foi o maior ataque do Al-Shabaab no país desde que Mohamud assumiu o poder em junho deste ano.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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