Em Moçambique, mais de 20% das meninas com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos foram casadas ou vivem com alguém como se fossem casadas. Os grupos de apoio estão colocando milhares dessas jovens no caminho da independência financeira, tornando-as menos vulneráveis à violência de gênero.
Teresa Gala tem 44 anos e é mãe de cinco filhos. Ela se casou aos 14 anos e teve que deixar a escola por causa das novas circunstâncias. Por mais de três décadas, seus dias foram preenchidos com afazeres domésticos e cuidar dos filhos. Durante a época agrícola, ela Gala aumentava a sua rotina diária trabalhando na quinta da família.
No entanto, seus pensamentos sempre permaneceram focados em ter seu próprio negócio, um que lhe desse independência financeira.
“Como eu não estudava e não tinha meu sustento, sempre tinha que pedir dinheiro ao meu marido”, conta Gala. “Sabendo que ele não ganhava muito, às vezes eu não pedia quase nada, mas mesmo assim ouvia ‘não’ muitas vezes. Era muito humilhante”.
Três décadas atrás, quando ela se casou, quase não havia debate sobre casamento infantil no país, mas as coisas estão mudando para melhor. Desde 2019, a Iniciativa Spotlight das Nações Unidas, que é financiada pela União Europeia (UE), tem apoiado a aprovação e implementação de leis moçambicanas que protegem mulheres e meninas da violência de gênero e de práticas nocivas, como os casamentos precoces.
Em 2021, a vida melhorou para Teresa Gala quando ela se juntou à Associação de Mulheres Tambara (ASMTA) na província de Manica, uma organização apoiada pela Iniciativa Spotlight. Essas associações e grupos criam redes de apoio onde as mulheres podem aprender e crescer juntas economicamente, além de criar relações de confiança e espaços seguros para abordar questões relacionadas à violência de gênero e aos direitos das mulheres.
Em Moçambique, ao longo do ano passado, a Iniciativa Spotlight apoiou mais de nove mil mulheres desta forma. Através do grupo, Gala teve acesso a um “kit de negócios” que inclui os fundos iniciais para ela abrir uma empresa de venda de iogurte feito de Malambe (fruto do baobá) e Maheu (uma bebida fermentada de milho).
No bairro de Tambara, onde ela mora, as temperaturas chegam facilmente a mais de 40º C. Mas, investindo seus primeiros lucros em um freezer, ela conseguiu fazer o sorvete Maheu e Malembe, que foi um sucesso imediato entre seus clientes.
Com mais dinheiro em caixa, a nova empreendedora conseguiu comprar um telefone celular para se comunicar com clientes e contatos das redes sociais. E os rendimentos da microempresa agora contribuem para as despesas da casa e pagam o estudo superior de uma das filhas no setor de saúde.
“Meu negócio me faz sentir mais respeitada em casa. Hoje sou uma mulher financeiramente estável, com economias, que contribui com as despesas da casa e com a educação dos meus filhos”, diz. “Não preciso mais esperar que meu marido satisfaça minhas necessidades financeiras”.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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