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sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Brasileiro na ONU pede criação de comissão para localizar desaparecidos na guerra da Síria

O presidente da Comissão Internacional de Inquérito sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro, defende a criação de um mecanismo que permita descobrir o paradeiro de dezenas de milhares de cidadãos desaparecidos durante o conflito armado, que segue para o 12º ano.

O brasileiro enfatizou que as famílias do país em conflito têm o direito de saber o destino de seus entes queridos. Para ele, a questão é uma das maiores tragédias da guerra na Síria.

Pinheiro diz acreditar que um novo mecanismo possa fornecer apoio urgente às famílias que procuram entes queridos desaparecidos, principalmente mulheres que estão na vanguarda da defesa da verdade sobre seus parentes. Muitas vezes estas correm o risco de prisão, assédio ou extorsão.

“São as mulheres que vão ficar percorrendo as prisões, as delegacias de polícia para saber onde estão os seus entes queridos e membros da sua família. E no exterior há várias entidades coletando esse número. Então, o que não falta é informação, mas o que está faltando é uma coordenação para articular todas as informações que se sabe para um dia poder ter um diálogo com as autoridades da Síria. Isso vai acontecer um dia. Não hoje, mas um dia, como aconteceu nos outros países”, disse ele.

Mulher carrega os dois filhos após perder o marido em bombardeio na cidade de Idlib, Síria, em fevereiro de 2020 (Foto: Unicef/Khudr Al-Issa)

Pinheiro citou um recente relatório do secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, sobre a questão, defendendo que se constitua um órgão internacional para esclarecer o destino e o paradeiro dos desaparecidos, além de apoiar suas famílias.

Na Assembleia Geral, o especialista pediu que o foco das discussões não seja mais na necessidade ou não de criar tal mecanismo. Ele disse haver experiências em países como Bolívia, Argentina, Colômbia e Kuwait onde o mecanismo funcionou depois das situações de instabilidade e estimulou segurança.

A expectativa é a de que a iniciativa possa coordenar e consolidar todas as reivindicações para deixar claro quantas pessoas estão faltando, esclarecer essa situação com meios inovadores e interceder junto às partes para o acesso a todos os locais de detenção.

Pinheiro considera que isso pode ser feito por associações de famílias e a sociedade civil. A comissão diz conter informações recolhidas ao longo dos 11 anos com o consentimento fornecido pelas fontes. Ele então apelou à Assembleia Geral, dizendo que chegou o momento de agir.

O brasileiro destacou ainda que seria um apoio humanitário significativo dos Estados-Membros, ajudando a enfrentar o sofrimento causado pelo flagelo dos sírios desaparecidos. O pedido feito às autoridades sírias e a outras partes do conflito é para que haja acesso imediato de monitores independentes a todos locais de detenção.

Ao comentar as condições atuais do país, ele citou a necessidade de tornar o país seguro para que os sírios em todo o mundo possam retornar para lá. “Os refugiados querem voltar. Quem é que não quer voltar para a Síria? Eu adoraria voltar para a Síria se eu fosse sírio. Eles não teriam uma dúvida, mesmo com suas casas e cidades destruídas. O país é deles e querem voltar, mas principal objeção é o medo em relação ao que pode acontecer”, afirmou.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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