O aumento da inflação e a guerra na Ucrânia provocaram um crescimento de 19% na pobreza infantil no Leste Europeu e na Ásia Central, de acordo com um estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) publicado nesta segunda-feira (17), Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
O impacto que a guerra na Ucrânia e a subsequente desaceleração econômica tiveram sobre a pobreza infantil no Leste Europeu e na Ásia Central alertam para um efeito em cascata que pode resultar em um aumento acentuado do abandono escolar e da mortalidade infantil.
Dados de 22 países da região mostram que as crianças estão carregando o fardo mais pesado da crise econômica decorrente da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro. Embora representem apenas 25% da população, representam quase 40% dos 10,4 milhões de pessoas adicionais forçadas à pobreza este ano.
“As crianças de toda a região estão sendo arrastadas pelo terrível rastro desta guerra”, disse a diretora regional do Unicef para a Europa e Ásia Central, Afshan Khan.
Em virtude da guerra na Ucrânia e da crise de custo de vida em toda a região, a Rússia responde por quase três quartos do aumento da pobreza infantil, com mais 2,8 milhões agora vivendo em famílias abaixo da linha da pobreza.
A Ucrânia abriga mais meio milhão de crianças que vivem na pobreza, a segunda maior parcela, seguida pela Romênia, onde houve um aumento de 110 mil, observa o estudo.
“Além dos horrores óbvios da guerra – a matança e mutilação de crianças, deslocamento em massa –, as consequências econômicas da guerra na Ucrânia estão tendo um impacto devastador sobre as crianças em todo Leste Europeu e na Ásia Central”, disse Khan.
Mortalidade infantil e abandono escolar
As consequências da pobreza infantil vão muito além das famílias que vivem em dificuldades financeiras. O aumento acentuado pode resultar em mais 4,5 mil bebês morrendo antes do primeiro aniversário, e perdas de aprendizado podem significar mais 117 mil abandonando a escola somente este ano, diz o estudo.
“Se não apoiarmos essas crianças e famílias agora, o aumento acentuado da pobreza infantil quase certamente resultará em vidas perdidas, aprendizado perdido e futuro perdido”, alertou a funcionária do Unicef.
Quanto mais pobre é uma família, maior a proporção de renda que deve ser destinada a alimentos, combustível e outras necessidades. Quando o custo dos bens básicos sobe, o dinheiro disponível para atender outras necessidades, como saúde e educação, cai, aponta o estudo.
A subsequente crise do custo de vida significa que as crianças mais pobres têm ainda menos probabilidade de acessar serviços essenciais e correm maior risco de violência, exploração e abuso. E, para muitos, a pobreza infantil dura a vida inteira, perpetuando um ciclo intergeracional de dificuldades e privações.
Quando os governos reduzem os gastos públicos, aumentam os impostos ou adicionam medidas de austeridade para impulsionar suas economias, diminuem os serviços de apoio para aqueles que dependem disso.
“As medidas de austeridade prejudicarão principalmente as crianças, mergulhando ainda mais crianças na pobreza e tornando mais difícil para as famílias que já estão lutando”, disse Khan.
Soluções possíveis
O estudo faz recomendações para ajudar pessoas em dificuldades financeiras, como fornecer benefícios monetários universais para crianças; ampliar a assistência social às famílias com crianças carentes; e proteger os gastos sociais.
Também sugere apoiar serviços de saúde, nutrição e assistência social para mães grávidas, bebês e pré-escolares, bem como a introdução de regulamentações de preços de alimentos básicos para as famílias.
Enquanto isso, o Unicef fez parceria com a União Europeia (UE) e vários países do bloco para pilotar a iniciativa EU Child Guarantee, focada em mitigar o impacto da pobreza nas crianças.
Com mais crianças e famílias sendo empurradas para a pobreza, uma resposta robusta é essencial em toda a região.
O Unicef está pedindo apoio ampliado para fortalecer os sistemas de proteção social em países de alta e média renda no Leste Europeu e na Ásia Central; e financiamento de programas de proteção social para crianças e famílias vulneráveis.
“Temos que proteger e ampliar o apoio social às famílias vulneráveis antes que a situação se agrave”, sublinhou a diretora regional do Unicef.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News
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