O governo do Irã interrogou diversas celebridades nacionais que manifestaram apoio aos protestos populares que ocorrem no país desde o dia 16 de setembro, uma reação à morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, que foi abordada violentamente pela “polícia da moralidade”. Todos tiveram os passaportes apreendidos, de acordo com a rede Radio Free Europe (RFE).
Entre os alvos da repressão está o ex-jogador de futebol Ali Daei, que teve passagem de sucesso por clubes da Alemanha e já comandou a seleção nacional iraniana como treinador. No mês passado, ele se manifestou pedindo ao governo para “resolver os problemas do povo iraniano em vez de usar repressão, violência e prisões”.
A manifestação levou Daei a ser convocado para depor, tendo então o documento apreendido, segundo o irmão dele. “A forma como Ali foi tratado foi vergonhosa”, disse ele sobre a situação do ídolo nacional, que defendeu a seleção do país em 149 oportunidades.
O Hertha Berlim, um dos clubes que Daei defendeu ao longo da carreira, se manifestou no Twitter sobre o caso de seu ex-atleta. “Estamos consternados ao olhar para a situação atual no Irã. Nosso ex-jogador Ali Daei não pode mais deixar o país porque se manifestou a favor dos direitos das mulheres. Solidariedade com todos os Herthaners (torcedores do clube) e mulheres no Irã que lutam tão bravamente por seus direitos”.
We are dismayed looking at the current situation in Iran. Our former player Ali Daei is no longer permitted to leave the country because he has come out in favour of women’s rights. Solidarity with all Herthaners and women in Iran who are so bravely fighting for their rights. pic.twitter.com/VH8mw29uQI
— Hertha Berlin (@HerthaBSC_EN) October 9, 2022
Outro ídolo do futebol nacional que falou em favor dos manifestantes foi Ali Karimi, que nos tempos de atleta chegou a defender o Bayern de Munique, um clube também alemão. Ele entrou na mira das autoridades do país por manifestar nas redes sociais apoio aos protestos. Porém, vive atualmente em Dubai e não está entre as celebridades cujo passaporte foi retido.
Quem aparece na relação dos alvos da medida repressiva é o ator Hamid Farrokhnejad, que relevou ter sido interrogado por horas devido a seu apoio aos protestos. “Fui convocado duas vezes, interrogado por dez horas e proibido de deixar o país”, disse ele.
A cantora Homayoun Shajarian e a artiz Sahar Dolatshahi também tiveram os documentos retidos pelo governo, sendo assim impedidas de ir embora do Irã.
Por que isso importa?
Os protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.
Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.
No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.
De acordo com a ONG, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal pelo governo. O relatório cita vídeos divulgados na internet que mostram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.
Foram identificadas 47 pessoas que grupos de direitos humanos ou veículos de comunicação informaram ter morrido nos protestos. Entre elas, ao menos nove crianças e seis mulheres, sendo a maioria vítima de disparos de armas de fogo. Entretanto, a própria ONG admite que o número de mortos é provavelmente maior devido à subnotificação.
Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.
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